Filomena Madeira
Quem acompanha os bastidores da política local e nacional certamente notou uma mudança gradativa, mas constante, nos ventos que sopram do Buriti em direção ao Palácio do Planalto nos últimos meses. Depois da tempestade de 8 de janeiro, a brisa da pacificação sopra otimista para o mandatário do Distrito Federal
O governador Ibaneis Rocha (MDB) em conseguindo pavimentar uma reaproximação estratégica com o governo federal, em especial o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nos primeiros dias após o fatídico 8 de janeiro, o petista demonstrava profunda irritação e alguma desconfiança em relação a uma possível conivência do mandatário do DF com a invasão das sedes dos três Poderes.
Além da possível omissão, pesava contra Ibaneis o fato de o governador ter insistido em manter o seu compromisso, firmado durante a composição da chapa para concorrer à reeleição, de oferecer um espaço no GDF ao ex-ministro da Justiça de Bolsonaro (PL), Anderson Torres.
Nos dias atuais, Lula e o alto comando do Planalto estão convencidos de que Ibaneis em nada colaborou com os episódios golpistas. Essa percepção foi corroborada com o resultado das investigações promovidas pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal, que nada encontraram que ligasse o governador ao quebra-quebra promovido pelos radicais bolsonaristas.
Os nós de tensão entre os dois mandatários, enfim, começaram a relaxar. Esse distensionamento ficou bem evidente na última ocasião em que os dois estiveram juntos, durante a solenidade de assinatura do reajuste salarial de 18% para as forças de segurança do DF. O ato, ocorrido sábado (22), no Palácio do Planalto, foi encarado com o viés de uma recomposição política: Lula convidou Ibaneis para se reunir às autoridades no dispositivo principal, junto com o primeiro escalão federal.
A concessão de reajuste também não deixou de ser um sinal de paz do Planalto em relação às forças policiais, claramente mais simpáticas ao discurso bélico de Bolsonaro. A mensagem que Lula quis transmitir foi clara: apesar do ocorrido, ele e o governo apoiam as corporações.
Guinada à direita – Uma outra variável colaborou para essa aproximação entre Lula e Ibaneis: a forte guinada à direita registrada nos eleitores do DF nos últimos anos. Os brasilienses, que por duas eleições seguidas elegeram governadores de esquerda, atualmente demonstram profunda resistência a candidaturas progressistas.
Político experiente, Lula entende a importância de desfazer essa trincheira bolsonarista na capital do País. E ter uma relação próxima com Ibaneis é um passo importante: o emedebista foi o primeiro governador a conseguir se reeleger no DF, no primeiro turno.
Em maio, pouco mais de um mês após seu retorno ao comando do Buriti, Ibaneis ostentava 63% de aprovação de seu governo. Aproximar-se de Ibaneis, portanto, pode ser um bom caminho para o PT e os partidos de esquerda voltarem a sonhar com o comando da Capital do País.