O imperador romano Nero se destacou na história por ordenar o incêndio em Roma com o propósito de construir um complexo palaciano ali, já que o Senado havia indeferido o pedido de desapropriação para a obra. Da mitologia aos tempos atuais, ativistas do Greenpeace quiseram associar a imagem do tirano romano com a de Jair Bolsonaro.
Na semana passada, eles ergueram uma estátua de quatro metros de altura do presidente do Brasil vestido em trajes de Nero numa área atingida pelas queimadas no Pantanal. O monumento logo foi apelidado de “Bolsonero”. Além disso, veio acompanhado da seguinte frase: “Pátria queimada, Brasil”, Segundo o grupo, para protestar contra o desmonte sistemático da política ambiental brasileira do atual governo.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama/Prevfogo), em parceria com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA/UFRJ), o fogo no Pantanal já consumiu mais de 3,9 milhões de hectares do bioma.
“Desde o início do governo ele tem demonstrado que não tem um política ambiental. As queimadas deste ano estão completamente fora de controle. Isso é consequência do desmatamento”, frisa o porta-voz do Greenpeace no Brasil, Rômulo Batista.
Os dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) corroboram com a declaração do ativista. A primeira semana de outubro foi o que se pode chamar de devastadora para três biomas brasileiros. De 1º a 7 de outubro, houve um aumento de 772% nos focos de calor no Pantanal, 505% no Cerrado e 199% na Amazônia, em relação ao mesmo período do ano passado. É o maior índice já registrado no período no Pantanal e no Cerrado, e o segundo maior na Amazônia desde 2010.
A tendência de aquecimento já era notada no mês anterior. Somente em setembro, houve um aumento de 180,7% dos focos de calor no Pantanal e 60,6% na Amazônia, quando comparados ao mesmo período do ano passado. E isso não é um fato isolado – comparando com a série histórica desde 1998 para setembro, as queimadas foram as mais severas para o Pantanal e o segundo pior ano para Amazônia desde 2010.
Os dados deste ano mostram que entre janeiro e os primeiros 7 dias de outubro, houve um aumento de 18% no número de focos de calor registrados na Amazônia e 215% nos focos registrados no Pantanal, em relação ao mesmo período em 2019.
Organização criticou governos de esquerda
Atos como este, focados na figura de um presidente da República, são corriqueiro entre as ações do Greenpeace no Brasil. Como forma de pressionar a presidente Dilma Rousseff (PT) e o Senado a não aprovarem o Código Florestal, um balão inflável foi erguido na Praça dos Três Poderes com o formato de uma motosserra, que trazia as frases: “Senado, desliga essa Motosserra”, de um lado, e “Dilma, desliga essa Motosserra”, de outro.
Em 2006, durante sua visita a Londres, o presidente Lula deparou com um pequeno grupo de cerca de 30 integrantes do Greenpeace que vestiam a camisa da Seleção Brasileira – em alusão ao fato de que uma área de floresta equivalente a um campo de futebol é devastada a cada dez segundos na Amazônia – para protestar contra o que consideravam devastação da Amazônia no governo Lula, enquanto o presidente passava de carruagem fechada rumo ao palácio de Buckingham.
Os manifestantes levavam, ainda, cartazes com a inscrição “God Save the Amazon” (parafraseando o “God save the Queen”, do hino britânico) e “Deus Proteja a Amazônia”. “Nossa organização é independente. Não recebe ajuda de governo nenhum e nem de partido. Por isso, temos a liberdade de sempre criticar os governos e os presidentes”, reforça Rômulo Batista.
Ricardo Sales nas cordas
Tão logo os incêndios se alastraram pelo Pantanal mato-grossense, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, sobrevoou a área devastada pelo fogo em 3 de outubro (sábado). Ele criticou as questões ideológicas para o uso de retardantes de fogo, como é usado nos Estados Unidos e Canadá, e que o governo não tardou em responder.
O ministro culpou o clima extremo e o baixo nível do rio Paraguai como dificultadores para se combater os incêndios florestais. Ele defendeu, ainda, o uso do fogo controlado e da pecuária, apoiando a ideia de ter uma brigada de incêndio permanente entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
O Senado tem pressionado o ministro Ricardo Sales a dar explicações sobre as ações desempenhadas pelo governo federal para combater as queimadas no Pantanal. O requerimento para que o ministro vá ao parlamento foi aprovado no dia 2 de outubro, na comissão criada para acompanhar os serviços das tropas federais na reserva ambiental.
A autora do requerimento é a senadora Simone Tebet (MDB-MS). Ela pretende ouvir de Sales informações sobre as multas ambientais aplicadas pelo Ibama nos últimos cinco anos em cada bioma brasileiro. O ministro tem 30 dias para responder.
(*) Especial para o Brasília Capital