O deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) conta com a união da direita para concretizar seu projeto de ser o próximo governador do Distrito Federal. Fala que colega de parlamento Jair Bolsonaro (PSC-RJ) é inteligente, que hoje já está no segundo turno da eleição presidente, mas menos educado do que ele. Fraga dá como certa sua disputa com atual governador, Rodrigo Rollemberg, e faz proposta polêmica: a de que a polícia deveria deixar a população frente a frente com os bandidos para aprender a dar valor aos profissionais de farda, que morrem para defender a sociedade. Sobre a recém-lançada candidatura do ex-presidente da OAB-DF Ibaneis Rocha, ele responde que o advogado é apenas “um nome qualquer”, argumenta que Frejat é beneficiário dos votos destinados ao ex-governador Arruda, “quem mais transfere voto em Brasília”. Entre seus prováveis adversários na campanha de 2018, garante que não quer votos de eleitores da deputada Érika Kokay porque “é só o que não presta”. Leia a íntegra da entrevista com o parlamentar que quando era da PM tinha o apelido de xerife na Ceilândia e lembra que, naquela época, “quem trocava tiro com a polícia ou ia para a cadeia ou para a cova”.
O senhor é da bancada da bala, mas faz parte do grupo que discute a questão das novas regras da Segurança Pública no país. Quais são os avanços que estão sendo obtidos?
É curioso como a esquerda procede. Esses esquerdistas tem uma maneira muito difícil e não entendível de se fazer política. Eles chamam de forma pejorativa a bancada da bala aqueles que defendem a vida do cidadão. Porque os projetos da bancada da bala são todos na linha Segurança Pública. E prejudicar, sim, a vida dos bandidos. Isso me dá o direito de dizer: “ se os que são contra os bandidos são chamados de bancada da bala, quem defende os bandidos é a bancada do crime”. Aí se enquadra o PT, Psol, Rede e PCdoB, porque são sempre contra. Por exemplo, o projeto que nós aprovamos ontem, contra os votos do PT, PR, Psol e PCdoB. Nós queremos que, aquele que assassinar um policial, cumpra a pena no regime fechado, sem progressão de pena. Quando em 2015 nós transformamos o assassinato de policiais em crime hediondo, nós achávamos que fosse servir de freio, não adiantou nada. Os crimes continuaram acontecendo.
Essa lei, só do ponto de vista do policial, não é discriminatória?
De forma alguma, o Supremo, de forma equivocada, disse que, no compito geral, não tem nenhuma pena que não tenha direito a progressão, mesmo crimes hediondos, quando a lei diz que crime hediondo é regime fechado. Quando ele falou isso, relacionou a todo mundo. Nós estamos criando, aqui, um novo tipo. Quem matar um agente do Estado vai responder por crime em regime fechado. Se é discriminação, ou não, deixo que cada um faça um exame de consciência. Só queria que me respondesse o seguinte: só no Rio de Janeiro foram assassinados 116 policiais, se fossem 116 jornalistas? E se fossem 116 políticos? Ou 116 advogado? Como é policial…
Em tese, o policial não foi preparado para enfrentar estas situações?
Não, ele é um ser humano como qualquer um outro. Vocês tem que entender que a única barreira que existe entre o crime organizado e você é o policial. É ele que está tombando em seu lugar. Porque enquanto eles estiverem lá para defender vocês da sociedade, quando não tiver mais essa barreira, é a sociedade que vai pagar o preço. A sociedade não enxerga isso. Como jornalista, você acompanhou que quando mataram dois ou três policiais no EUA, o presidente interrompeu a viagem dele. Foi comoção nacional. Aqui, estão se matando dois policiais por dia. Os números assustam qualquer país do mundo. Eu não vejo nada a ser feito. Se eu tivesse o poder de dizer para a polícia “parem”, para deixar os bandidos invadirem a casa de todo mundo, aí dariam valor a polícia. Eles morrem atirando, morrem defendendo a sociedade. Está de folga e vê o cara te assaltando, ele vai te defender. É um idiota.
Você idiotice o policial fazer isso?
Com esse reconhecimento que a sociedade tem com ele? Ele é bobo. Não é um idiota, é bobo. Porque não tem o devido reconhecimento da sociedade. Ele morre pela sociedade e a sociedade está cagando e andando para ele.
Quais medidas aprovadas você considera mais importante? O senhor é defensor do porte de armas…
Sim, e vamos aprovar agora o porte de arma rural, que permite que o cidadão que mora no campo possa usar uma arma no limite de sua propriedade.
Ter uma arma é garantia?
Não é garantia, mas não deixa de ser uma precaução, uma forma de se defender.
E esses casos que o bandido chega e toma a arma da pessoa?
Não chega a 1%. Esses dados foram inventados pelos desarmamentistas que, sem argumentos, inventam. Primeiro, o argumento era de que essas armas matavam as crianças.
Nos EUA, vem acontecendo várias tragédias com o uso de armas por pessoas que tem acesso…
Você consegue controlar um cara desse? O que um louco desse tem a ver? Aqui no Brasil, tem um exemplo que não é só a arma que mata, teve um que queimou as crianças. Vai proibir o fósforo? A gasolina? Não tem como partir do pressuposto que todo cidadão, ao comprar uma arma, vai usar aquilo por um crime?
E no trânsito, por exemplo?
Aí é porte de arma. Tá vendo como se confundem as coisas? O porte de arma é o que dá o direito de andar com ela. O que eu defendo é a posse, você comprar e ter na sua casa. Para sua defesa, da sua família e propriedade. Se alguém bater lá na porta, você dá um tiro pro alto, ele corre. “Ah, mas muitas vezes a arma acaba indo para a mão do cidadão”. É verdade. Quando você é pego de surpresa, não tem que reagir.
Já aconteceu isso com você?
Eu sou um exemplo. Estava dormindo, o cara entra no meu quarto e aponta uma arma para a cabeça da minha mulher. Você acha que eu iria reagir? Tudo bem, entreguei a arma que estava na cabeceira da minha cama. Outra pergunta: se eu tivesse visto eles chegando, vocês acham que eles estariam vivos? Pode ter certeza que eu mataria os três.
Qual era a arma?
Era uma escopeta. Tenho várias armas, sou colecionador. Levaram ela. Eles não me reconheceram, tanto é que tentaram devolver o que roubaram. A polícia deve ter ficado com tudo.
O senhor é pré-candidato ao GDF, em aliança com Bolsonaro, que seria candidato para presidência, como estão essas conversas?
Minha aliança com o Bolsonaro passa até pela amizade que nós sempre tivemos. Eu e ele somos amigos desde 1981, quando fizemos Educação Física juntos, na escola do Exército. Eu era primeiro tenente da Polícia Militar e ele era primeiro tenente do Exército.
Esse discurso é afinado desde então?
Desde então. O Bolsonaro, ao contrário do que muita gente pensa, é um cara muito inteligente. Ele é um cara muito autêntico e direto nas palavras.
E o senhor não é?
Não, sou mais educado que ele (risos). Menos contundente. O que eu penso: se o Bolsonaro diz uma frase, você diz a mesma frase, só que a dele é mais contundente. O que deixa a gente conscientes é que, por incrível que pareça, de tanto ver ladroagem e corrupção, é esse discurso que o povo está querendo ver. Porque se você acha que Bolsonaro é aventura, ele deixou de ser.
Essa polarização com Lula e Bolsonaro dá uma brecha para um buraco no meio?
Acho que está abrindo um buraco, mas quando quiserem não vai dar tempo de alcançar. Hoje, o Bolsonaro está no segundo turno.
Você estará no segundo turno em Brasília?
Acho que sim.
Contra quem?
Espero que seja contra o “enRollemberg”. Esse enrolão, atrapalhado, que fez a cidade parar por quatro anos. Eu gostaria muito de manter o grupo da direita unido. A gente tem que se despir das vaidades pessoais. Eu tenho pedido muito isso. Com muita humildade, fui testado numa majoritária, em um momento muito difícil de Brasília, no qual era secretário. Diga-se de passagem era um secretário forte no governo e, naquela crise, tive 500 mil votos. Fiquei quatro anos fora, sem mandato. Voltei como o mais votado no DF, o 3° no Brasil, proporcionalmente.
Esse é o seu patrimônio?
Esse é o meu patrimônio. Mesmo assim, não bato e digo que sou candidato isolado. Quero ter o apoio e o consenso dos colegas do grupo da direita.
Essa entrada do Ibaneis dizendo que o Rollemberg não ganha por W.O…
Não quero desmerecer a posição do Ibaneis, mas ele nunca foi testado em urna. Primeiro, não daria essa importância tanto que deram a ele. É um nome qualquer, como pode ser o seu ou de qualquer pessoa. A alegação é de que ele tem muito dinheiro. Será que ele vai poder esse dinheiro em campanha? Sinceramente, embora tenha um bom relacionamento com o Ibaneis, tanto é que, de todos os pré-candidatos, o único que não falou se incomodou fui eu. Porque, se eu perder pro Jofran Frejat, até aceito. O que não posso é aceitar que alguém chegue agora e sente na janela.
Ele é um paraquedista?
Não, porque ele já estava há um bom tempo dizendo que quer ser candidato.
Mas ele quer se candidatar a governador…
Exatamente isso, então, se ele entra com a finalidade de ser o candidato a qualquer custo, acredito que o PMDB será isolado. Mas tenho certeza que os outros partidos não vão aceitar.
Chamou atenção a ausência de lideranças importantes de Brasília. O senhor não estava lá, assim como o Izalci, Alírio e Frejat. Você acha que essas ausências são um sinal de que ele não agrega?
Eu não compareci. Não posso falar pelos outros. Mas, tinha uma pauta de segurança pública em que eu era o autor da maioria das propostas. Mesmo que quisesse ir, não poderia.
Você queria ir?
Eu não tenho essa liberdade toda com ele, tenho com o Fillippeli.
O Fillippeli chegou a explica para o senhor sobre essa chegada tão abrupta do Ibaneis?
Chegamos a conversar, tivemos uma boa conversa. Ele me falou que estava apenas filiando uma pessoa, e não um candidato a governador. Ele me garantiu isso. Eu acredito nas pessoas. Se as pessoas me traem, aí todo mundo conhece minha forma de reação. Confio na palavra dele. Também não posso trair e nem ser incoerente com a minha consciência: o acordo que temos feito é que aquele que estiver em melhor condições deve ser o candidato.
Hoje seria o Frejat?
Não, Frejat em algumas pesquisas está na minha frente. Mas tem pesquisa que estou na frente dele. Está pau a pau. Hoje, os votos do Frejat está respaldado no apoio do Arruda. O Arruda continua sendo um grande eleitor, quem mais transfere voto em Brasília. Sempre estive bem com ele, quando a gente tem que brigar nós brigamos.
E briga por quê? Tem exemplos?
Por discordar das opiniões dele. As minhas discordâncias surgem por questão de opinião. Mas, é uma pessoa que não podemos ignorar a posição política e articulação que sempre teve na cidade. Foi um governador de grandes feitos. A última discussão que tive com ele é que ele deveria qual candidato iria apoiar. E não ficar naquela coisa… Ainda penso assim.
Ele decidiu?
Ainda não. Ele conversa comigo, com o Alírio, Fillippelli e todos os candidatos. Ainda não bateu o martelo. Acho que essa indefinição é o pode permitir uma articulação da esquerda, deste incompetente que está no governo, através de uma mídia que o está ajudando. Agora, ele está tendo apoio do poder Judiciário. Nós não podemos fazer propaganda política criticando o governo dele, que ele consegue derrubar o programa. É verdade. Eu lembro que tiraram um programa meu do ar, porque eu disse que ele gastou R$ 72 milhões. Ele pegou uma planilha inicial de R$ 23 milhões ou R$ 32 milhões, e não R$ 72 milhões. Agora, está se constatando que eu estava errado, pois era de R$ 123 milhões de publicidade, naquele período. Acho que o PTB também teve os seus programas suspensos. Ele está encontrando uma forma de calar a oposição, de forma inédita, utilizando o Poder Judiciário, que ele sempre teve boa influência.