Nazareno era um personagem de Chico Anysio casado com uma mulher muito feia. Usava o bordão “calada!”, sempre que ela tentava se manifestar. Ao final, ele olhava para a câmera e desafiava: “tá com pena? Leva pra você!”. O silêncio de Bolsonaro desde a prisão de Fabrício Queiroz tem similaridade com a ficção do saudoso humorista. O Presidente segue orientação dos militares do governo para evitar atritos com os demais Poderes.
Nas conversas com os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do STF, e com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assessores do Planalto perceberam que a paciência com Bolsonaro chegara ao limite. A “Abin clandestina” de Bolsonaro descobriu, em abril, uma articulação de Maia, Davi Alcolumbre (presidente do Senado) e ministros do STF pelo impeachment. Aí os militares viraram bombeiros.
Caaalaado! – A trégua foi aceita com a condição de o Presidente se conter em seus ataques às demais instituições. Moraes reagiu com frieza. Relator dos inquéritos que investigam as fake news e o gabinete do ódio e o que apura o financiamento e a organização de atos antidemocráticos, é o magistrado mais temido no Planalto.
Foi Moraes quem determinou à PGR para seguir o dinheiro recebido pelos extremistas bolsonaristas e chegou a 26 pessoas físicas e jurídicas e 11 congressistas. Destes, 4 usaram cota parlamentar para financiar atos antidemocráticos. Por “coincidência”, depois que o Presidente adotou o silêncio, reduziu aparições públicas e polêmicas vazias, o governo começou a andar. Paradas no Congresso, a ampliação da data de validade da CNH passou a tramitar e o novo marco regulatório do saneamento básico já está pronto para ser sancionado.
O encaminhamento das propostas é resultado da articulação da ala militar, liderada por Braga Netto, com o Centrão. Em troca de barrar um possível processo de impeachment e de aprovar pautas positivas, o grupo tem ganhado cargos de segundo e terceiro escalões.
O silêncio do presidente também foi providencial para estabilizar sua aprovação (que vinha caindo) em 41% e a reprovação em 49%. A pesquisa foi realizada pelo portal Poder 360 de 22 a 24 de junho, após a prisão de Queiroz, ex-assessor do filho 01, em 18 de junho.
Tá com pena? – No Congresso, um parlamentar da base aliada comemora o silêncio do chefe do Planalto. E para quem o questiona, ele pergunta: “tá com pena? Fica com o antigo Bolsonaro pra você”.