Em junho de 2013, uma série de protestos questionava o aumento das tarifas de trem, metrô e ônibus em São Paulo de R$ 3,00 para R$ 3,20. Entre os grupos mais conhecidos à frente dos atos estavam o Movimento Passe Livre (MPL), fundado em uma plenária no Fórum Social Mundial em 2005, em Porto Alegre.
Inicialmente, discussões do MPL feitas em escolas públicas da Zona Sul e da região de Pirituba defendiam o passe livre apenas para estudantes. Com o tempo, o movimento ganhou o apoio de universitários, movimentos comunitários, de moradia e de saúde, e passou a defender a passagem gratuita para todos.
Os protestos ganharam corpo nas ruas, movidos especialmente pelas redes sociais, e culminaram com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. Fato histórico tão recente, porém, parece não ter ensinado nada ao atual governo.
Na quarta-feira (15), milhões de brasileiros foram às ruas protestar contra os cortes na educação. No mesmo dia, o ministro da área, Abraham Weintraub, convocado pela Câmara dos Deputados, prestava depoimento para explicar as decisões do Executivo.
Arrogante e desrespeitoso, tentou transferir a responsabilidade pelas atuais dificuldades financeiras do País para os governos anteriores. E chegou a insinuar que os parlamentares não trabalham: “Fui bancário, carteira assinada, azulzinha, não sei se vocês conhecem”, disparou ele em determinado momento, causando protestos no plenário.
Do outro lado do oceano, em Dallas, nos Estados Unidos, seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro (PSL), não deixou por menos. Ao falar sobre os episódios que ocorriam no Brasil, classificou os manifestantes de “idiotas inúteis” e “massa de manobra”. E emendou: “a maioria é militante. São idiotas úteis usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona”.
Portanto, pelo que se viu, leu e ouviu, Bolsonaro e seus asseclas não tiraram nenhuma lição do que ocorreu no Brasil nos últimos anos. Aquela diferença de R$ 0,20 no valor das tarifas do transporte público, em 2013, é muito menor do que o corte superior a 30% na receita das universidades públicas em 2019.
O presidente se apequenou diante da grandeza dos protestos ordeiros e democráticos registrados país afora. E com a assessoria de gente como Weintraub, pode ter iniciado trajetória semelhante à da ex-presidente. Dilma acabou derrubada sob o falso argumento das “pedaladas fiscais”, desculpa esfarrapada encontrada pelo Congresso Nacional para entregar sua cabeça aos leões. Afinal, a alta rejeição junto à opinião pública tornou sua posição insustentável. Será que o cacife de Bolsonaro é maior do que os vinte centavos de Dilma?