Júlio Miragaya (*)
Tem que se dar nome aos bois. Quem puxou o gatilho pode ter sido o bolsonarista Jorge Guaranho. Mas, como nos casos de Bruno e Dom, novamente o mandante foi Jair Bolsonaro. Sim, é a sua pregação à intolerância e ao ódio a responsável pela escalada da violência política nos últimos tempos. Vejamos:
Ameaça de morte à deputada estadual do Psol-MG Andreia de Jesus (“Vai morrer, macaca, seu fim será como o de Marielle”, dizia a última mensagem ameaçando-a); ataque em Uberlândia ao comício de Lula/Khalil por drone de bolsonaristas jogando fezes; ataque em Brasília com bolsonaristas jogando fezes e ovos no carro do juiz Renato Borelli que mandou prender o corrupto ministro da Educação de Bolsonaro; ataque no Rio por bolsonarista arremessando bomba e fezes no comício de Lula/Freixo na Cinelândia; ataque em Guaramirim (SC), com disparos de tiros contra a casa dos ambientalistas Germano e Elza Woehl; culminando no assassinato de Marcelo Arruda em sua própria festa de aniversário, repetindo o assassinato do mestre de capoeira Moa do Catendê pelo bolsonarista Paulo de Santana, na Bahia ,e a agressão com garrafadas ao estudante da UFPR por bolsonaristas em Curitiba, por usar boné do MST, ambos em 2018.
A violência política se soma às milhares de agressões diárias contra negros, mulheres, comunidade LGBT, migrantes, pobres, indígenas, ambientalistas, jornalistas etc, estimuladas pela apologia da tortura e da morte por Bolsonaro, com sua pregação de racismo, homofobia, xenofobia, misoginia e intolerância religiosa.
A incitação à violência política por Bolsonaro não é de hoje. Em 1999, em entrevista à Band, disse: “O Brasil só vai mudar quando partir para uma guerra civil fazendo o que o regime militar (ditadura) não fez, matando uns 30 mil”. Em setembro de 2018, no Acre, simulando disparar uma metralhadora, afirmou: “Vamos fuzilar a petralhada, vamos mandar esses picaretas pra Venezuela comer capim”.
Em 1928, Hitler pregava: “Na luta contra o comunismo, o marxismo, me vejo como o escolhido para iniciar uma guerra, e não descansarei até essa praga ser removida da Alemanha”. Alguma semelhança?
E como reagem as “instituições democráticas” ante às sucessivas pregações de ódio e intolerância política de Bolsonaro e a escalada da violência: apelos à razão por parte do TSE; vergonhosas tentativas de diálogo por parte do STF; apoio da maioria do Congresso Nacional (Centrão); conivência das FFAA e omissão do MPF e da PF, que sequer investigam o mega mensalão do Orçamento Secreto.
Tudo sob os aplausos de banqueiros, felizes com os juros nas alturas; de empresários, satisfeitos com as privatizações da Eletrobras e Petrobras; da gang do agronegócio, livre para invadir terras públicas e indígenas; da cúpula das FFAA, presenteada com polpudas boquinhas; sob as bençãos de falsos cristãos evangélicos, que recebem mimos em barras de ouro e o conivente sorriso amarelo da classe média conservadora, feliz com a gasolina mais barata.
Mas a esmagadora maioria dos trabalhadores e do povo pobre repudia Bolsonaro. São pessoas que estão entre os 120 milhões que vivem em domicílios com rendimento de até dois miseráveis salários mínimos; os 18 milhões de desempregados; os 40 milhões de subempregados; os 33 milhões que passam fome.
Ciente da eminente derrota, Bolsonaro tenta iludi-los com auxílio de R$ 600 até dezembro, vale gás etc. Mas sabe que não é o suficiente. Então, recorre ao incentivo à violência, buscando acuar, impor o medo aos 60% ou 70% da população que não querem mais 4 anos desse desgoverno que destrói o País.
Qual a segurança para participar de um comício? Qual a garantia de se colocar um adesivo, bandeira de Lula ou do PT na janela de sua casa, de seu apartamento ou de seu carro e não sofrer um atentado?
Se um basta não for dado pelo TSE, pelo STF, pela sociedade, o período eleitoral transcorrerá permeado de fake news, de ameaças de virada de mesa; de nova tentativa de golpe no 7 de setembro; de um “Capitólio à brasileira”; de mais assassinatos.
Com a palavra as “instituições democráticas”.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável e ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia