Moradores e frequentadores divergem sobre o fim do acesso ao parque por meio da Península dos Ministros. Providência foi tomada pelo Ibram para evitar barulho e sujeira na quadra
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Vista de longe, a QL 12 parece um condomínio fechado. De perto também. Por dentro, mais ainda. Uma imponente guarita dá as boas vindas aos visitantes. Um carro e duas motos fazem rondas frequentes para garantir a segurança dos moradores, que têm como quintal um parque às margens do Paranoá, com cinco quilômetros de ciclovia. A quadra é a única do Lago Sul que é fechada e possui um nome próprio: Península dos Ministros – o nome vem dos moradores de casas funcionais destinadas ao alto escalão do governo federal.
Desde o dia 24 de novembro, porém, a entrada de acesso ao parque por dentro da QL 12 está fechada. A providência foi tomada pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) que administra os parques do Distrito Federal. De acordo com o presidente da Associação de Moradores, Marcos Drummond, fechar a entrada do parque não foi a melhor solução para os problemas que vinham ocorrendo, mas tem sido aprovada pela comunidade da Península.
“Inicialmente, houve rejeição dos moradores porque a entrada do parque ficou mais longe. É preciso dar uma volta maior para chegar. Mas, por outro lado, voltamos a ter paz na quadra. Os moradores estão se sentindo mais seguros”, pondera Drummond. De acordo com ele, nos dias de maior fluxo no parque, como finais de semana e dias de sol, ocorrências como furtos a residência e a carros estavam se tornando frequentes.
O morador Joaquim Gomes reclama do consumo de drogas que havia no local. “Ficávamos muito incomodados com a bagunça, mas é área pública”, afirma. “Eu gostei de ter fechado a entrada”, aprova. “É muito ruim não conseguir entrar ou sair de casa porque tem alguém trancando a sua garagem. Impede o direito de ir e vir do cidadão”, finaliza.
Para a Associação de Moradores, o ideal seria que as ordens de uso do parque fossem respeitadas e, principalmente, fiscalizadas pelo Ibram. O horário de abertura e fechamento, a presença da Guarda Ambiental e da Polícia Militar para coibir o uso de drogas eram as principais reivindicações da Associação.
O problema é que quem não mora na Península – a esmagadora maioria da população – e gosta do local ficou prejudicado. A nova entrada não possui um estacionamento. Os carros ficam amontoados ao longo do meio fio do Conjunto 1 ou no posto de gasolina, onde as vagas são limitadas e demarcadas com cones. Thiago Almeida e sua namorada Michele Farias desaprovaram a medida.
“Há cerca de um mês, viemos passar o dia aqui. Paramos o carro perto do lago, ficamos embaixo da árvore e foi super agradável. No último final de semana, fomos surpreendidos com o portão fechado, quando tentamos repetir o passeio”, conta Thiago. Para Michelle, o problema foi a chuva. “Como nós ficamos longe do carro, quando começou a chover não tivemos o que fazer: o jeito foi tomar banho de chuva”.
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Outros frequentadores assíduos do parque são os praticantes do Kitesurf. Na avaliação do surfista Josué Victor, os problemas que aconteciam justificaram o fechamento da entrada pela Península. “Estava demais. Era muito lixo que sobrava dos finais de semana. Se as pessoas respeitassem as regras nunca teríamos tido problema”, afirma Josué.
Ele só reclama que, após a medida de segurança, precisa caminhar mais até chegar no lago. “Muitos praticantes estão reclamando da distância. Carregar o equipamento da entrada de serviço até o lago é muito mais longe”, conta. “Mas é bom que o pessoal vai aquecendo antes de surfar”, brincou.
Daniel, Márcia e Emerson Dourado são primos e foram comemorar o aniversário de Emerson no parque na quinta-feira (4). Moradores de São Sebastião, os três contam que é um hábito da família marcar encontros e piqueniques no local. “Nós gostamos muito daqui”, disse Márcia.
Para os garotos, o fechamento não implicou em transtornos, já que a entrada de serviço é mais próxima da parada de ônibus. “Para quem vem de carro eu acredito que piorou muito, mas para nós que chegamos e saímos sempre de ônibus ficou até melhor. A entrada nova é mais perto da parada”, afirma Daniel, indiferente ao bloqueio do acesso via Península.
Maior IDH do mundo
A Península é um reduto de milionários. São senadores, deputados, ministros e os principais empresários da cidade que formam a vizinhança da Manhattan brasiliense. Se fosse uma cidade, a QL 12 teria o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, de acordo com pesquisa recente da Companhia de Planejamento (Codeplan).
Enquanto nas quadras vizinhas é possível adquirir um terreno de 800 metros quadrados com 400m de área verde por R$ 2,2 milhões, na QL 12 o mais barato não custa menos que 4,5 milhões. Especula-se que o mais caro chegue a 30 milhões. Mas nenhum dos dois tipos está à venda.
A discussão sobre o parque não é recente. Antes, o local era apenas uma área verde da cidade, sem urbanismo. Muitas das benfeitorias, como plantação de grama e implantação da ciclovia, foram financiadas pelos próprios moradores, mesmo sabendo que a área continuaria pública.
Em 2003 houve uma tentativa de fechar o parque para “estranhos”, impedida pelo Ministério Público. O meio-termo foi a instalação de uma guarita sem cancela e a criação do Parque Ecológico, mais restritivo do que outros similares.
O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) informa que os dois acessos ao Parque Península estão abertos. Um para visitantes, e outro para Serviços. Existe ainda um terceiro portão que não é de acesso ao parque que é de uso exclusivo da Caesb para manutenção. Este permanece fechado.
Durante a semana a Direção do Ibram, moradores lindeiros ao parque e frequentadores realizaram algumas reuniões. Outras estão previstas para o decorrer da próxima semana. Estão sendo pensadas várias alternativas com o objetivo de atender os anseios da comunidade.