A Câmara Episcopal da Igreja Anglicana do Brasil publicou nota repudiando as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o assassinato do líder indígena Emira Waiãpi, no Pará. O texto, assinado por 14 bispos, também considera “seriamente preocupante” a afirmação do presidente da República contra o presidente da OAB, dizendo que um dia explicaria a ele como o seu pai, Fernando Santa Cruz de Oliveira, desapareceu nos porões da ditadura militar de 1964.
A íntegra da nota da Câmara Episcopal é a seguinte:
“Desde há algum tempo, temos assistido ao desmonte de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários que têm trazido imensos prejuízos, especialmente às pessoas mais vulneráveis em nosso País.
“Isso, por si só, já tem sido objeto de preocupação pastoral de nossa Igreja, e temos afirmado isso em diversos posicionamentos pastorais na qualidade de Câmara Episcopal da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.
“Há, no entanto, fatos novos, e ainda mais preocupantes, que nos chamam a atenção por seu caráter perverso, insano até, de se estimular, a partir da política oficial de órgãos governamentais, e do próprio presidente da República, a violação do direito à vida, ao meio ambiente e à dignidade intrínseca das pessoas.
“O assassinato da liderança indígena Emira Waiãpi por ocasião de uma invasão armada à sua aldeia, devido aos interesses de garimpeiros de explorar a área, mostra bem que este governo patrocina, por omissão e ação, um projeto de morte.
“As pessoas não são prioridade. A prioridade é o lucro, e quem se opuser a este projeto será eliminado, não interessa se sejam defensores de direitos humanos, indígenas ou quilombolas.
“O presidente ainda tem a coragem de levantar dúvidas sobre a autoria do assassinato, inclusive antes que as investigações apontem os responsáveis. E tenta criminalizar os movimentos de defesa dos povos indígenas.
“Outro fato a se considerar seriamente é a afirmação preocupante do presidente da República contra o presidente da OAB, dizendo que um dia explicaria a este último como o pai dele, Fernando Santa Cruz de Oliveira, desapareceu nos porões da ditadura.
“E, ao fazer esta afirmação ao vivo, o fez sem esboçar nenhuma empatia, nenhum respeito à familia.
“Não é a primeira vez que isso é feito, mas é a primeira vez que se afirma conhecer a prática de um crime sem cumprir a sua responsabilidade de servidor público número um da Nação.
“Isto nos preocupa seriamente porque são atitudes publicamente assumidas por quem deveria ser guardião dos direitos e garantias individuais da Constituição.
“Em nosso ministério episcopal, trabalhamos com pessoas, com seus sentimentos, esperanças e angústias. Por esta razão, manifestamos nosso repúdio a esse tipo de comportamento que, lamentavelmente é sublinhado por algumas lideranças religiosas que se afirmam como cristãs.
“Este não é o Cristo que confessamos. O Cristo que afirmamos é aquele que encarnou nossa natureza, nos amou profundamente e deu a Sua vida exatamente para que a morte não se tornasse a marca da sociedade.
“Nosso Deus nos convida a estar do lado das pessoas pobres e exploradas. A vida é o fundamento do reino de Deus. Qualquer regra ou prática que banalize a vida, a natureza e a dignidade de todos os seres, deve ser condenada como obra do Maligno.
“Conclamamos nosso povo a orar e a vigiar. A testemunhar por palavras e obras o nosso compromisso com o Reino de Deus.
“Com nossas orações e bênçãos,
Bispo Naudal Alves Gomes, Diocese Anglicana do Paraná e Primaz
Bispo Maurício Andrade, Diocese Anglicana de Brasília
Bispo Renato Raazt, Diocese Anglicana de Pelotas
Bispo Francisco de Assis da Silva , Diocese Sul-Ocidental
Bispo Humberto Maiztegui , Diocese Meridional
Bispo João Câncio Peixoto, Diocese Anglicana de Recife
Bispo Eduardo Coelho Grillo, Diocese Anglicana do Rio de Janeiro
Bispa Marinez Rosa dos Santos Bassotto, Diocese Anglicana da Amazônia
Bispo Clóvis Erly Rodrigues, Emérito
Bispo Almir dos Santos, Emérito
Bispo Celso Franco, Emérito
Bispo Jubal Pereira Neves, Emérito
Bispo Orlando Oliveira, Emérito
Bispo Filadelfo de Oliveira, Emérito
Bispo Saulo de Barros, Emérito”