A Beija-Flor de Nilópolis, com seu enredo de exaltação da cultura e da alma africana, venceu o carnaval carioca, superando a polêmica do apoio recebido da Guiné Equatorial – país que vive sob ditadura e que foi homenageado no desfile. Terceira escola a entrar na Sapucaí na segunda-feira (16), segunda noite do Grupo Especial do Rio, a azul-e-branca da Baixada Fluminense conquistou nesta quarta-feira (18) seu 13º título.
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A escola mostrou o enredo: \”Um Griô conta a história: um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade\”. A exaltação da cultura e da alma africana já havia dado à escola azul e branca da Baixada Fluminense vários campeonatos, que no total faturou 12 títulos no carnaval carioca.
Em 2015, a Beija-Flor voltou a abusar do luxo e da tradição. Foram poucas as inovações ou os recursos tecnológicos. A aposta maior foi na perfeição técnica e na empolgação dos integrantes, que na avenida esqueceram o sétimo lugar de 2014 para voltar a sonhar com um posto mais alto.
A voz única e marcante de Neguinho da Beija-Flor, que completa 40 anos de escola, fez do samba-enredo o ponto alto e manteve a empolgação dos 3.700 componentes, distribuídos em 42 alas, sete carros e um tripé.
Homenagem polêmica
A Beija-Flor recebeu patrocínio da Guiné Equatorial, o país africano homenageado no enredo, que é uma ditadura comandada há 35 anos por Teodoro Obiang Nguema Mbasogo e tem como base da economia a exploração do petróleo. O patrocínio gerou muita polêmica.
O presidente da Beija-Flor, Farid Abraão, negou que o governo da Guiné Equatorial tivesse investido R$ 10 milhões no carnaval da escola, mas admitiu ter recebido contribuição, sem, no entanto, informar o valor.
\”A gente pegou um enredo para falar de um país africano, um país que até então muita gente não conhecia. Nossa questão aqui é carnaval. O regime não nos compete. Cuba era odiado pelo mundo democrático e hoje está sendo abraçado\”, disse Farid, ementrevista ao G1.
Representantes da Guiné Equatorial acompanharam o desfile de um dos camarotes.
Desfile afro colorido
Mas na hora do desfile da Beija-Flor, a política foi deixada de lado e o foco foi dirigido para as belezas e a cultura do país. O desfile teve alegorias e fantasias impactantes e rebuscadas, com uma profusão de máscaras, carrancas, búzios, plumas, palha e sisal.
A comissão de frente veio sem elementos cenográficos. Munidos de lanças e escudos, os bailarinos fantasiados de guerreiros formavam uma árvore na avenida. Em formato de máscaras, os escudos causaram impacto ao trazer movimentos de expressões faciais, comandados por controle remoto.
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À frente do abre-alas, um tripé trouxe uma escultura da imagem do diretor de carnaval na figura de um griô, velho sábio que conta as histórias antigas aos mais jovens.
O azul e o branco, cores da escola, apareceram somente o início do desfile. Para mostrar a Guiné Equatorial ao público, predominou o verde das florestas e da ceiba, conhecida como a \”árvore da vida\”, um dos símbolos da África Ocidental.
O Sambódromo então foi tomado por uma explosão de cores para retratar ritos, costumes e roupas usadas pelos habitantes do pequeno país africano ainda hoje.
As investidas dos explodores europeus também foram lembradas, assim como o tráfico de escravos. Um carro com cacau, diamante e petróleo exaltou as riquezas do país.
Encerrando o desfile, a mistura dos povos e a celebração da formação da nação brasileira e o enlace entre o Brasil e a Guiné Equatorial.
Claudinho e Selmynha, casal de mestre-sala e porta-bandeira símbolo da escola, comemoraram 20 anos de Beija-Flor.
A rainha Raíssa Oliveira veio mais uma vez absoluta à frente dos 270 ritmistas da bateria dos mestres Plínio e Rodney.
Cláudia Raia, que desfila há anos pela Beija-Flor, veio com uma fantasia de \”Deusa Soberana\”.
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-diretor geral da TV Globo, homenageado no último carnaval da escola, também voltou a desfilar.