Gustavo Goes e Zilta Marinho
Brasília não é nenhum Deserto do Saara. Porém, para desgosto dos mais de 2 milhões de foliões que irão às ruas nos 208 blocos autorizados a desfilar na capital (dados da Secretaria de Segurança Pública e Paz Social), as águas não vão rolar no carnaval 2017.
Garrafas cheias não veremos sobrar. Tampouco torneiras com abundância de água. Por determinação da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa), aquelas instaladas na área central do Plano Piloto estarão secas em plena segunda-feira (27), durante o Reinado de Momo.
O racionamento atingirá também os Lagos Sul e Norte, Sudoeste e Noroeste, o que tornou mais real a marchinha deste ano do tradicional Pacotão. A música satiriza o Governo do Distrito Federal e a crise hídrica que impôs o primeiro controle no fornecimento d’água na área central de Brasília desde a inauguração da capital, há quase 57 anos.
A música “Banho Tcheco”, referência à lavagem da genitália feminina numa bacia quando a mulher não quer lavar o corpo inteiro, ironiza a falta d’água. No embalo do mais tradicional bloco brasiliense, a sátira política foi deixada de lado diante da seca inédita, embora também ironize a Agência de Fiscalização do DF (Agefis), especialmente por causa da burocracia para se conseguir licenciamento para colocar o bloco na rua.
O racionamento que começa na segunda-feira (27) vai atingir uma população de 557 mil pessoas. A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa) informou que medida é uma consequência do baixo nível de água no reservatório de Santa Maria, que está com apenas 45% de sua capacidade total.
O corte no fornecimento de água acontece um mês depois de a medida ter sido adotada em cidades abastecidas pelo reservatório do Descoberto, que registrava 37,6% do volume útil na quarta-feira (22). No mesmo dia, por uma questão de segurança nacional, foram excluídos dos cortes de fornecimento os prédios onde funcionam os três Poderes da República – os palácios do Planalto, da Alvorada e do Jaburu, Congresso Nacional e Esplanada dos Ministérios.
Pelo cronograma que a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) divulgou na quarta-feira (22), o racionamento nas áreas abastecidas pelo Sistema Santa Maria/Torto, onde vivem ou trabalham 20% da população do DF, o corte atingirá as Asas Sul e Norte, Lagos Sul e Norte, Varjão, Taquari, Jardins Mangueiral, Paranoá, Itapoã, Setor de Oficinas Sul, Park Sul, Cruzeiro, Octogonal, Setor Militar Urbano, Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), Estrutural, Sudoeste, Noroeste, Jardim Botânico,SOF Sul e Park Sul.
O corte de água ocorrerá a cada seis dias por 24 horas. Porém, regiões com mais residências, em áreas mais altas ou onde a pressão na rede de abastecimento é menor, podem demorar mais para normalizar o fornecimento. O cronograma prevê um dia sem água, dois dias de estabilização do sistema e três de abastecimento normal.
Atraso de Corumbá IV agrava a crise
As obras Sistema Produtor do Corumbá, iniciadas em abril de 2011 com previsão de entrega para 2013 ainda hoje estão com apenas 68% concluídos. O último prazo para inauguração era maio de 2016, o que também não foi cumprido.
Tantos adiamentos transformam Corumbá IV em mais capítulo da crise hídrica no Distrito Federal. O volume do aquífero é cinco vezes maior que o Lago Paranoá e, se estivesse em pleno funcionamento, evitaria o racionamento ora determinado pelo governo.
A construção é responsabilidade da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), em parceria com a Saneamento de Goiás (Saneago). Porém, a empresa goiana está impedida pela Polícia Federal de continuar o investimento, por suspeita de desvio de dinheiro público.
Aliás, exemplos de desperdício de dinheiro público em obras de captação de água não faltam. Pode ser encontrado no mesmo endereço, a poucos metros do Sistema Produtor do Corumbá. Em 1989, uma obra semelhante da Saneago não foi concluída e a parte de concreto está coberta por árvores, metais enferrujados e manilhas inutilizadas.
A velha estação de tratamento tinha a mesma função da nova instalação: captar água de Corumbá IV e abastecer o DF e o Entorno. A diferença entre as duas é o tamanho. A antiga conseguiria operar com 550 litros por segundo (L/s), podendo ser ampliada para 1.100 L/s; e a estação em construção 2.800 L/s, com a possibilidade de ampliar para 5.600 L/s.
Lago Paranoá – O Governo de Brasília aguarda liberação de recursos federais para começar as obras para captação de água do Lago Paranoá, uma das alternativas para reduzir o racionamento nas áreas hoje abastecidas exclusivamente pela barragem de Santa Maria. O Sistema Paranoá deve entrar em operação em agosto e vai atender 600 mil moradores no Paranoá, São Sebastião, Lago Norte, Sobradinho, de Sobradinho II, Grande Colorado e Planaltina.
CNBB – O uso consciente da água foi debatido no dia 18 de fevereiro durante a Formação para a Campanha da Fraternidade 2017, promovido pela Arquidiocese de Brasília. Participaram do debate o cardeal Sergio da Rocha, representantes do clero; da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa); e da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural do DF.
Falta de dinheiro prejudica desorganização
“Este ano está muito difícil sair. Não é só a questão da verba. A dificuldade está também na enorme burocracia para se obter um alvará”, afirma Joca Pavaroti, um dos organizadores do Pacotão. De acordo com a nomenclatura avacalhada do bloco, Joca é integrante “da equipe oficial de desorganização”.
“Este ano, pensamos que iríamos fazer parte do grupo ‘Concentra mais não sai’”, brinca. A saída foi reduzir custos, como em segurança, por exemplo. Como faz há 39 anos, o Pacotão atravessará a W3 da Asa Norte para a Asa Sul na contramão.
A concentração é entre as quadras 302/303 Norte, a partir das 12h de domingo (26) e terça-feira (28). Os foliões seguirão para a 504 Sul. O encerramento está previsto para as 22h. O lançamento do CD com as marchinhas e a camiseta 2017 será no sábado (25), às 18h, no foyer do Teatro dos Bancários, na 314/315 Sul.
Conheça a letra da marchinha do Pacotão
Banho Tcheco
Compositores: Antonio José Sales, Antonio Carlos Sales, Thayanne Sales, Hadassa Dolbeth Sales
Passou-se tanto tempo
Nossa barragem tinha
Água até demais
Por falta de investimento
O Rollemberg corta a água
E agora faz!
É banho de bacia
Tcheco, tcheco, tcheco
Falta água noite e dia
Tcheco, tcheco, tcheco
O Pacotão que vai falar
A falta de gestão
Faz o DF afundar
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