O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) não deixou dúvidas no mercado de que manterá o ciclo de alta dos juros por mais tempo que o previsto. Com isso, vários analistas já começaram a elevar as projeções para a taxa básica de juros (Selic) no fim do ano de 14% para 14,5%. Em ata divulgada ontem, os diretores do BC reafirmaram que continuam “vigilantes” em relação à inflação e acrescentaram dois termos novos ao documento, determinação e perseverança, com o objetivo de conter a carestia nos próximos anos.
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Na reunião do último dia 3, o Comitê elevou a taxa básica da economia (Selic) pela sexta vez seguida. Os juros subiram 0,5 ponto percentual, para 13,75% ao ano, o mesmo patamar de dezembro de 2008. Na ata divulgada um dia depois de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ter alcançado o maior nível em 13 anos (8,47% em 12 meses), o BC reconheceu que a inflação de 2015 tende a permanecer elevada, “necessitando determinação e perseverança para impedir sua transmissão para prazos mais longos”. Essa mudança no texto acendeu o alerta para um aperto mais forte na próxima reunião de julho. Em vez de preverem 0,25 ponto de percentual, vários especialistas estão alterando as projeções para uma alta de 0,5 ponto percentual. No lugar de contar com o fim desse ciclo de alta em julho, agora a expectativa é de um novo aumento de 0,25 ponto, levando a Selic para 14,5% até dezembro.
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, foi o primeiro a apostar nesse posicionamento mais agressivo do BC e a prever uma Selic de 14,50% neste ano enquanto o mercado ainda apostava em 14%. Agora, prefere manter as projeções. “Ficou explícito na ata que o BC quer deixar para 2015 os piores efeitos da inflação para poder, em 2016, começar a reduzir os juros o mais rápido possível”, disse. Ele prevê que, no próximo ano, a Selic chegará em dezembro a 11%.
“O BC foi mais duro em relação à inflação nesse último texto. Ao colocar essa indicação de que será preciso determinação e perseverança, sinalizou um tom mais forte e que deve fazer de tudo para evitar uma contaminação em 2016 e 2017”, disse a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências.
Apesar das indicações inequívocas quanto a novas altas no juros, o Copom deixou dúvidas ao tentar recuperar a credibilidade perdida durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, quando foi, segundo críticos, leniente com a inflação. Com isso, o BC manteve o centro da meta de inflação, de 4,5%, como objetivo a ser alcançado no fim de 2016, previsão ainda abaixo das estimativas do mercado. A da mediana, segundo o relatório Focus, está em 5,5% dada a forte pressão no custo de vida este ano. O objetivo de 4,5% é considerado irrealista.
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