Carlos Pacini surgiu na mídia por volta de 1990, com status de um novo Avatar nascido na cidade goiana de Natividade, onde ganhou fama e muito dinheiro como advogado. Mas, para surpresa geral, largou a bem-sucedida profissão, optando por pregações e consultas espirituais gratuitas. Preocupada com a situação financeira, sua mulher, Solange, indagou como conseguiriam pagar as despesas domésticas, incluindo a alimentação. E ouviu a resposta singela do marido, citando Jesus no Sermão da Montanha:
– “Olhai as aves do Céu: não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, vosso Pai Celeste as alimenta!”
Mudando-se para Brasília, a casa de Pacini se transformou num templo residencial, frequentado por uma clientela crescente de pessoas que compareciam para ouvir suas prédicas e receber a Bênção do Abraço,complementada por palavras ininteligíveis sussurradas ao pé do ouvido, que as curava, milagrosamente(**), de doenças consideradas fatais pela Medicina convencional, idem aleijados que voltavam a caminhar sem auxílio das muletas. Nos intervalos desses encontros, que se estendiam da manhã à noite, o mago goiano entretinha a platéia, dedilhando músicas sacras no velho piano de cauda.
Mantendo a filosofia de fazer o bem sem olhar a quem e sem cobrar pelas consultas, o guru sempre recusou receber dinheiro de seus fiéis. Na ocasião, graças ao patrocínio de quatro deles, publicou o best-seller “O SOL, a Unidade do Conhecimento”, ampliando para milhares de adeptos em todo o País. Curiosamente, após uma década como protagonista, e quando passou a ser chamado de Mestre por seus discípulos, de repente, eis que Carlos Pacini some do mapa, só reaparecendo anos mais tarde em Nova Iorque.
Novo estranho sumiço. E agora Pacini dá as caras, compondo música gospel eletroacústica. Já produziu três álbuns com vendagem esgotada nos Estados Unidos. Se Pacini continua indiferente aos dólares, só Deus sabe. O certo, mesmo, é que, aos 67 anos, com cabeleira grisalha hippie, ele pode ser classificado de Avatar, Gênio ou Maluco Beleza.
(**) Como repórter, testemunhei “milagres” semelhantes de vários médiuns. Mais recentemente, de João de Deus, que transformou a cidadezinha goiana de Abadiânia em atração mundial, com a presença de doentes estrangeiros, em busca de suas “cirurgias espirituais”.
A outra corrupção
Cardápio de medos
Aedes Brasilis