Ladeado pelo empresário, ex-vice-governador e atual presidente do PSD, Paulo Octávio, o governador Ibaneis Rocha (MDB) seguiu os passos de José Roberto Arruda e, em 2020, vai apoiar o desfile da escola de samba Unidos da Vila Isabel. Oficialmente, o GDF não vai desembolsar recursos públicos para custear o desfile. A proposta é que ajude na captação de recursos com base nas leis de incentivo à cultura.
Entretanto, para assinar o termo de cooperação com a direção da Unidos da Vila Isabel, o GDF já desembolsou R$ 22,4 mil, entre passagens e diárias aos carnavalescos, informa o jornalista Romário Schettino, no portal Brasiliários. Outras despesas deverão aparecer, pois de acordo com o secretário Adão Cândido, a parceria com a Vila Isabel não será pontual e tem o propósito de ser estendida por todo o mandato.
Em 2009, Arruda apoiou a Beija-Flor, com R$ 3 milhões dos cofres públicos e, segundo a imprensa, a iniciativa privada candanga entrou com mais R$ 500 mil. Os valores que a Vila Isabel estaria demandando seriam, de acordo com pessoas ligadas ao carnaval de Brasília, de R$ 4 milhões. A promessa é que o samba enredo seja de autoria de Martinho da Vila.
A decisão de Ibaneis abalou o mundo da cultura do DF. Espaços culturais como o Teatro Nacional e o Museu de Arte de Brasília estão fechados há anos. Há poucos dias, um edital do Fundo de Apoio à Cultura foi revogado e o GDF decidiu repassar a verba que apoiaria iniciativas culturais para a reforma da Sala Martins Pena, do Teatro Nacional.
A deputada Erika Kokai (PT-DF) chegou a propor a Ibaneis manter intacto o FAC em troca de uma emenda parlamentar assegurando a mesma verba. O governador não topou a permuta. Os artistas locais temem o desemprego geral.
Rimas difíceis
Nas redes sociais, o que se pergunta é como Martinho da Vila, que tem raízes no Partido Comunista Brasileiro, vai rimar Saúde com falta de médicos e remédios, 330 mil desempregados, falta de livros didáticos e militarização de escolas e engarrafamentos com falta de proposta de mobilidade urbana, além, claro, da insegurança pública.
“A reestruturação do carnaval das escolas de samba em Brasília é incipiente e não se promove em poucos meses”, disse ele. A proposta do GDF é incentivar a volta dos desfiles na cidade. “O que o secretário Adão talvez desconheça é que a ARUC já conta com parceria da Portela”, registra Schettino, tradicional jornalista de Cultura da cidade.
Há cinco anos Brasília vive sem os desfiles das escolas de samba por falta de dinheiro. Por isso, a notícia de apoio ao carnaval carioca caiu como uma bomba. Atravessou a avenida. Moacyr Oliveira – o Moa -, presidente da ARUC, em nota oficial estranhou o fato da Associação das Escolas de Samba de Brasília ter sido “marginalizada desse processo, não tendo sido consultadas ou sequer informadas”.
Moa relata que, em 2010, uma etapa da escolha do samba-enredo da Beija-For aconteceu em Brasília – e não como será agora, no Rio – e que sambistas da cidade puderam participar. Além disso, as escolas de samba do DF puderam acompanhar todo o processo no barracão da Beija-Flor.
Secretário de Cultura do DF em 2009, o jornalista Silvestre Gorgulho informa que para o carnaval de 2010 não foi escolhida uma escola de samba aleatoriamente. “Fizemos uma carta convite para a Liga das Escolas de Samba do Rio indicar as primeiras cinco escolas do ranking que topassem fazer o desfile dos 50 anos de Brasília. Em contrapartida seriam assegurados ensaios na Escola com participação de carnavalescos e realização do concurso de samba enredo na Capital. A Beija-Flor foi a única que apresentou proposta. Disponibilizamos R$ 3 milhões para a vencedora”.
Gorgulho acha que Ibaneis erra na proposta, e sugere uma fórmula que estimule as escolas de samba do DF. “Que se lance um edital para escolher os quatro melhores enredos de escolas do DF, uma do Rio e outra de São Paulo e realiza-se um carnaval fora de época no 21 de abril, com seis escolas desfilando na Esplanada dos Ministérios. Assim, você divulga Brasília internacionalmente, faz a festa do aniversário da cidade e apoia as escolas candangas”.