Para evitar o desgaste com a insatisfação popular com a escalada da violência urbana, os governos e seus marketeiros criaram a narrativa da “sensação de insegurança”, que segundo eles, é uma “percepção popular que não necessariamente corresponde à realidade”. Na Saúde estão fazendo algo semelhante: anunciam medidas, projetos e programas para produzir a sensação de que tudo está bem. Sensação que não necessariamente corresponde à realidade.
No site da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal está exposta a “carta de serviços” que são oferecidos à população. Lá está registrado que em uma Unidade Básica de Saúde é feito o acolhimento, são realizados procedimentos, vacinação, agendamento para residentes da área de abrangência da equipe de Saúde da Família, atendimento imediato de casos agudos e de maior gravidade e encaminhamento para atendimento especializado ou de maior complexidade. As equipes também devem fazer cadastramento da população e visitas domiciliares. Mas isso só se aplica ao horário diurno de atendimento.
A expansão do atendimento até as 22h em 19 das unidades básicas de saúde do DF é restritiva para visitas domiciliares. As salas de vacina, as farmácias e os laboratórios não funcionam. À noite, a dificuldade para obter ambulância é maior. Ou seja, até remoção de paciente que precise de atendimento de urgência ou emergência está fora do alcance de resolutividade da equipe que fica no plantão noturno.
Pior ainda do que tudo isso é o fato de que para ficar nesse plantão noturno (no qual quase nada se pode fazer pelos pacientes), as equipes deixam de atender os pacientes que teriam acesso a vacinas, medicamentos e exames durante o dia. Ou seja, suspende-se o atendimento que pode ser dado para oferecer a sensação de que o atendimento foi ampliado, quando o que ocorre é justamente o contrário.