A Secretaria de Saúde mantém 10 equipes em sentinela para inspeções de animais peçonhentos nas 31 regiões administrativas. O trabalho é decorrente das solicitações realizadas por telefonemas, e-mails e ofícios enviados pela população. A Dival recolheu, até 20 de julho, 570 escorpiões — 61,5% do registrado em todo 2015. Os acidentes no DF são mais frequentes em setembro e em outubro, meses mais quentes, e menos frequentes entre maio e julho, época de frio, de acordo com o Relatório Epidemiológico Sobre Acidentes por Animais Peçonhentos da Secretaria de Saúde.
Os escorpiões estão espalhados por todo o DF, mas não de forma homogênea. Taguatinga, Asa Norte e Asa Sul apresentam maior incidência, segundo a Secretaria de Saúde. O biólogo da Dival Israel Martins acredita que o ambiente urbano se tornou um bom lugar de reprodução para o aracnídeo pela oferta de água, abrigo e alimento. “A cidade guarda um subterrâneo que as pragas costumam habitar, como ratos, baratas e escorpiões. É um submundo favorável à sobrevivência deles e que tem ligações com as nossas casas”, explica.
Difícil controle
Os escorpiões vivem até 5 anos. Por ano, as fêmeas têm, em média, quatro gestações, que variam entre 15 e 20 filhotes, cada. Algumas espécies podem chegar a 7cm de comprimento na vida adulta. No DF, três espécies ocorrem com maior frequência (leia quadro). A Vigilância Ambiental se ancora na habilidade de procriação sem parceiro sexual e na adaptação a abrigos urbanos, como caixas de esgoto, de luz e de telefone, para explicar a disseminação do bicho na cidade. Além disso, segundo o órgão, a ocupação irregular do solo, o crescimento populacional e o fluxo de material de construção explicam a ampla distribuição. Apesar das estatísticas, Israel minimiza a gravidade dos ataques. “No DF, os acidentes são mais leves e menos perigosos. Restringem-se a sintomas como dor local, e a pessoa evolui para um quadro normal”, afirma. A Secretaria de Saúde não divulgou quantas pessoas morreram em 2016 vítimas de ataques de escorpiões e de outros animais peçonhentos.
Esses aracnídeos começaram a se proliferar na capital federal na década de 1970. Para Israel, ainda há poucas pesquisas sobre os efeitos de inseticidas e de outras técnicas para controlar a população do animal no ambiente urbano. A Secretaria de Saúde não utiliza nenhum método de contenção do bicho, como produtos químicos e armadilhas, além das visitas em locais onde houve denúncias. “Ele não morre com facilidade. Consegue, por exemplo, ficar sem respirar na água e reemergir sem problemas. Ainda não temos soluções químicas eficazes”, detalha o biólogo. Israel explica que a única maneira de evitar acidentes é criar barreiras físicas, como tapar ralos e tubulações.