Em meio à mobilização internacional em torno do sequestro de mais de 200 adolescentes nigerianas pelo grupo islamita Boko Haram, a cidade de Gamboru Ngala foi alvo ontem de mais um violento ataque atribuído aos extremistas. O local, no nordeste da Nigéria, servia de base para os militares que buscam libertar as reféns. Testemunhas relataram que homens armados chegaram à cidade durante o dia e lançaram explosivos contra o mercado local e contra prédios públicos. Até a noite passada, a polícia tinha confirmado a morte de 125 pessoas, mas autoridades estimam que o número de vítimas possa chegar a 300. Os governos de Reino Unido, França e Canadá se uniram aos Estados Unidos e ofereceram ajuda no combate ao grupo extremista.
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De acordo com a rede de televisão CNN, o ataque ocorreu depois que tropas instaladas em Gamboru Ngala deixaram o local para verificar relatos — que, posteriormente, foram classificados como falsos — de que as estudantes sequestradas estariam em uma área próxima à fronteira com o Chade. Testemunhas relataram que homens armados chegaram em veículos blindados e vans caracterizados com as cores da polícia e do Exército.
Moradores da cidade indicaram à agência de notícias Reuters que os extremistas dispararam contra o mercado municipal, que estava lotado, queimaram casas e chagaram a cortar a garganta de algumas vítimas. Talatu Sule relatou à agência que se escondeu em casa com os filhos e, quando deixou a residência, deparou-se com a brutalidade dos milicianos. “Eu contei 85 mortos até perder o interesse de contar. Foi horrível. Eles queimaram veículos e 17 trailers carregados com vacas e grãos”, afirmou.
O Boko Haram já fez mais de 1,5 mil vítimas desde o início do ano na Nigéria, o país mais populoso da África e que detém a maior economia do continente. A dificuldade do governo de Abuja em conter as ações violentas dos extremistas, que dominam o nordeste e já executaram ações no noroeste e no sul do país, preocupa a comunidade internacional. John Campbell, ex-embaixador dos Estados Unidos na Nigéria e membro do Conselho de Relações Exteriores (CFR, na sigla em inglês), observa que o Boko Haram demonstrou capacidade de agir em quase um quarto do território nigeriano . Para ele, a ausência do Estado levou parte da população a apoiar o Boko Haram, embora Abuja negue tal suporte. “No norte, há uma noção de marginalização por parte de um governo que é tido como predominantemente do sul do país e cristão. As estatísticas econômicas e sociais no nordeste da Nigéria são, de longe, as piores do país. E estão piorando”, avalia.