Bruno Santa Rita e Gabriel Lima
As passagens subterrâneas no Eixo Rodoviário (o Eixão) atraem a desconfiança de brasilienses que precisam atravessar uma das principais vias da cidade. Se, por um lado, evitam o risco de atropelamentos, há quem evite esse caminho por medo de assaltos. No entanto, quem percorre esse subsolo pode conferir uma verdadeira galeria de arte urbana, com intervenções que incluem imagens em grafite, colagens de figuras em papel (lambe-lambe) e pichações.
A pesquisadora em comunicação Úrsula Diesel coordenou uma pesquisa acadêmica sobre o assunto e concluiu que essa arte humaniza a cidade e que as passagens subterrâneas tornaram-se verdadeiras galerias de arte. “Quando a gente observou o espaço urbano, percebeu um grande objeto de comunicação. Tudo isso vira material para se pensar a cidade, a vida das pessoas deste local”, afirmou.
Para a professora, essas pinturas vão além do que está representado na parede. “Eu vejo as intervenções visuais urbanas deste tipo como uma tentativa de comunicação. Uma busca por expressar no espaço público urbano pensamentos, reflexões e sentimentos. Inclusive uma das coisas que orientou nosso projeto foi a percepção de que elas nem sempre são uma agressão”, disse.
A estudante Mayra Alves de Oliveira comentou que o projeto partiu de uma hipótese de que as intervenções urbanas podem humanizar a cidade. “Gostei de saber que a maioria das pessoas tem uma percepção boa quanto às manifestantes. Traz certa liberdade e dá voz às intervenções”.
Subterrâneos sociais – Em uma caminhada pela passarela, entre as quadras 205 e 105 Norte, sob goteiras e odor de urina, é possível observar obras com temáticas sociais e políticas. Como as figuras lambe-lambe, de “Senhor N”, essas artes deixam as passagens mais coloridas e mais vivas.
A artista plástica Brixx*, 29 anos, também exibe sua arte nos subsolos do Plano Piloto. “Esse é um espaço a mais na cidade. Ao mesmo tempo em que o seu trabalho é visto pelas pessoas que passam por ali, é um lugar em que você corre um pouco menos o risco de ser vista e ser repreendido”.
Uma das dificuldades que ela aponta é o risco que isso pode causar à sua integridade. “Na verdade, eu acho que é questão de aceitação social. Você não corre só o risco da polícia te ver e te abordar, como do próprio cidadão que pode se incomodar e ligar para polícia ou mesmo te agredir”.
“Senhor N”, 19 anos, sempre foi apaixonado por museus de arte e por intervenção urbana. Foi assim que ele teve a ideia de unir os dois colando “lambe-lambes” (colagem de posteres) com o conteúdo de obras de artes renomadas junto a placas com as informações das obras. O artista procurou colar seus lambes em paradas de ônibus e nas passagens subterrâneas que, segundo ele, são mais tranquilas e com um grande fluxo de pessoas.
Museu subterrâneo – Na avaliação da pesquisadora Úrsula Diesel, existe um museu vivo onde há intervenção visual e efemeridade. Úrsula ainda ressalva a ideia de que as obras têm um caráter militante, que aborda contextos e discussões atuais.
Ela considera que existem os dois lados da moeda. “Algumas pessoas interpretam a pichação de forma negativa, como algo agressivo. Enquanto o grafite e a colagem já são vistos como arte, como algo que enfeita a cidade. A interpretação das pessoas depende também do local no qual se encontra a arte”, avalia.
A diarista Maria Bárbara Melo, 61, concorda que os grafites são melhores do que as pichações. “Tudo colorido é bem melhor do que cinza”. Maria do Carmo, 50, que trabalha como doméstica, sempre passa pela mesma passarela. “Acho feio palavrão. Os desenhos, quando são bem feitos, deixam o meu caminho muito mais bonito”, afirma.
John Norton, 40, é analista de sistema e discorda de como são dispostas as passagens subterrâneas. “Esse espaço deveria estar ocupado por lojas. Além de arrecadar impostos para o governo, traria segurança para as pessoas que passam por aqui. Apesar disso, ele considera que essas artes tornam a paisagem mais bonita.
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