Cristovam Buarque (*)
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Brasília se despediu, na semana que passou, do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé. Além da genialidade para criar projetos diferenciados, foi um homem extremamente comprometido com o social. Uma figura de caráter. Lelé morreu aos 82 anos, vítima de câncer de próstata, em Salvador.
Um dos mais conceituados arquitetos brasileiros, Lelé participou da construção de Brasília, ao lado Oscar Niemeyer. Na capital do país, assinou projetos como o do Instituto Central de Ciências, conhecido como Minhocão, e o Memorial Darcy Ribeiro-Beijódromo, na Universidade de Brasília (UnB).
Na UnB, ele também lecionou e pediu demissão ao lado de 209 professores e servidores, em protesto contra a repressão na universidade, durante a ditadura militar. Também foi responsável pelos desenhos dos hospitais da Rede Sarah. Foi um arquiteto diferenciado, nos desenhos e soluções, buscou um compromisso com o socialismo, nas diferentes obras que fez. Era uma pessoa de grande caráter.
Em discurso no Senado, lamentei a morte do grande arquiteto, uma perda de dimensão nacional, e de um amigo que se foi e que conheci bem quando fui reitor da UnB. Lelé foi além da genialidade da arquitetura. Ele também se dedicou a obras em comunidades pobres, como na cidade de Abadiânia (GO), a cem quilômetros de Brasília. Lá ele construiu uma pequena usina de pré-moldados leves em argamassa armada, a fim de erguer escolas rurais e pontes para estradas vicinais.
Lelé era um cidadão exemplar, preocupado com os problemas do povo.
(*) Professor da UnB e senador pelo PDT-DF