Há uma música maravilhosa da banda Engenheiros do Hawaii que diz: “Ao encontro de, de encontro a.Seja o que for, um bom português não vai nos salvar.”
Tanto “ao encontro de” quanto “de encontro a” são classificados, gramaticalmente, como locuções prepositivas. O valor preposicional se dá pelo fato de essas expressões introduzidas por elas terem existência dependente de um outro termo da oração (ou seja, há uma relação de subordinação). Veja os exemplos:
- A mãe foi ao encontro da família.
- A opinião popular vai de encontro à ideologia do presidente.
Em ambos os casos, os termos sublinhados são subordinados a “foi” e “vai”, respectivamente. A finalidade dos termos em negrito é conectar os verbos a “família” e “sua ideologia” (note que, sem esses conectores, as duas orações tornam-se agramaticais). Morfologicamente, essas ligações são estabelecidas por preposições; como esses elementos de ligação possuem mais de uma palavra, classificamo-los como locuções. Portanto, locuções prepositivas.
Do ponto de vista semântico, há uma ligeira diferença. “Ao encontro de” denota aproximação, concordância; em contrapartida, “de encontro a” indica distanciamento, discordância. Na oração 1, é possível entender que a mãe se aproximou da família. Já na 2, a locução empregada releva que a opinião popular é divergente da ideologia do presidente.
Do ponto de vista textual, é fundamental saber quando usar uma locução ou outra, uma vez que elas estabelecem sentidos bem diferentes e antagônicos. Assim, conhecê-las colabora sobremaneira com o entendimento de textos e práticas redacionais.
Já do ponto de vista poético, há algo ainda mais profundo. A música quer, em outras palavras, dizer que encontros e desencontros (ou concordâncias e divergências) não são resolvidas apenas com um bom português!
Sou defensor máximo da importância do ensino de língua portuguesa, mas sei reconhecer o valor social que esse aprendizado possui. Comunicar-se com qualidade em diversos contextos (formal ou informal) é importante, mas não a solução de tudo; comunicar-se com qualidade é um facilitador, e nãoum fim em si mesmo.
É como uma música da mesma banda que diz: “é como ficar esperando cartas que nunca vão chegar. Não vão chegar com X, nem vão chegar com CH”.