Para começar, tenho em meu arquivo uma coleção de artigos que escrevi criticando o PT e Lula. E não acredito na inocência deste último, que conheço desde os tempos do sindicalismo no ABC, quando lá exerci durante sete anos o jornalismo.
Logo, não me venham com histerismos e adjetivos, nem da direita nem da esquerda. Não tenho mais tempo e paciência para isso.
Acompanho a política brasileira desde garoto, começando em 1954, sob o impacto do suicídio de Vargas. Leio e estudo muito desde então, com a humildade de reconhecer minhas carências culturais. Não será um garoto mal formado numa faculdade que vende diplomas que me dará aulas de política. Para isso busco os livros que valem a pena.
Apostar no fascismo bolsonarista, que se apresenta com as mais primitivas propostas, tipo armar a população, é no mínimo uma regressão mental. Mais ainda quando baseada num antipetismo sem reflexão. Ora, o PT roubou e deixou roubar, isso foi parte do acordo com a direita, e que caracterizou o período Lula. Bolsonaro estava lá: foi durante 12 anos de um partido que integrava a base aliada do governo. Esqueceram ou não sabiam?
Quando, em que dia e hora, o “honesto” apontou alguma irregularidade? Ou contra Cabral, do PMDB, que saqueava o Rio de Janeiro? Ele não estava preocupado com isso. Cuidava de ajeitar os filhos na política, educando-os para a truculência, e tratando dos negócios da família no Vale do Ribeira, onde hoje tem mais de 40 empresas, como apontou a revista Época, do grupo Globo, que ninguém ousará chamar de comunista. Como alguém consegue isso só somando proventos de capitão da reserva com ganhos parlamentares? A conta não fecha.
Antes da fundação do PT, em 1980, tanto a elite da direita como os chamados governos populares, há um século já roubavam descaradamente os cofres públicos. Mas sempre empunhando o discurso moralista em vésperas de eleições. Nada disso é novidade. Jânio e Collor usaram a tática com êxito. Nenhum terminou o mandato. Portanto, nada disso nasceu com o PT. Começa com Cabral, quando aqui aportou subornando os índios com espelhinhos.
Em 1963, há 55 anos, o presidente João Goulart colocou o íntegro general Osvino Ferreira Alves na presidência da Petrobrás com a missão de coibir a corrupção. O problema não começou ontem, com FHC ou Lula, e nunca foi a estatal e sua função estratégica, e sim a má-gestão. E quem acha que na ditadura não se roubava merece um pirulito e um chocalho de presente, além do troféu ingenuidade.
Apontem um único partido, na História desta República, que não tenha se lambuzado em todo tipo de falcatrua, a começar pelo emprego de parentes como funcionários fantasmas. Aécio Neves tinha 18 anos, passava as tardes jogando vôlei em Ipanema, no Rio, mas já estava na folha de pagamento do Congresso, como assessor parlamentar do avô, Tancredo. Certamente com sua mesa de trabalho nas areias da praia. É o mesmo Aécio que deixou viúvas traídas, hoje bolsonaristas. Mas que nada aprenderam.
Não santifico nem esconjuro o PT. Não foi o único a errar. Mas desconhecer o que fez de bom no plano social seria leviandade. Como é falta de caráter dos empresários que ganharam muito dinheiro com renúncias fiscais nos governos Lula e Dilma e hoje criticam com a maior cara de pau. Por que não criticavam quando estavam se dando bem?
Quero, com tudo isso, apenas dizer que o PT sempre foi um partido como outro qualquer. Não é o demônio encarnado, e que uma vez debelado transforma o Brasil num paraíso só de vestais. É o que temos na política brasileira, infelizmente. Em nada diferente do PMDB, PSDB, PP (onde estava Bolsonaro, dividindo o banco com Cunha e Maluf). A propósito, este mesmo PP campeão de inquéritos na Lava Jato. Bolsonaro só não entrou na lista, como ele mesmo disse na Globo News, porque era do baixo clero, ao qual ninguém dava a mínima atenção, nem mesmo para subornar.
Jogar o Brasil no fascismo imprevisível, com um vice que desconhece a Constituição e quer extirpar até o décimo-terceiro salário, do pouco que resta ao trabalhador, é uma irresponsabilidade. Por mais que tenha defeitos, o PT jamais levantaria um questionamento tão cretino. Por mais que tenha defeitos, o PT jamais faria apologia da tortura, e isso não é irrelevante: um presidente exerce um grande poder policial-militar delegado pela Constituição, como chefe supremo das Forças Armadas.
Não há antipetismo que justifique isso. É infantilidade política, para uns. Manipulação, para outros. Ou esperteza oportunista.
(*) Jornalista, 73 anos, nasceu em São Luiz Gonzaga (RS), filho de um oficial do Exército, morou e estudou em diferentes cidades do estado e do RJ, vive em SP desde 1969