Mario Pontes
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RIO – O livro mais fascinante, entre os vários que dormiam nas minhas prateleiras e só pude ler este ano, foi publicado em 2002 na Inglaterra e em 2006 no Brasil. Intitula-se 1421: O ano em que a China descobriu o mundo. O autor, Gavin Menzies, nasceu na China, de pais ingleses, em 1937. Foi para a Grã-Bretanha menino. Estudou ciências. Entrou para a Marinha, e no comando de um submarino navegou por todos os oceanos.
Enquanto cumpria os deveres de chefe, o erudito Menzies orientava o trabalho dos astrônomos e geógrafos que, em sua embarcação, registravam e colecionavam provas da passagem da grande frota chinesa (mais de cem barcos), que sob o comando de Zhu Wen levantou ferros em 1421, cruzou muitos mares, deteve-se em desconhecidos acidentes geográficos, descritos e mapeados pelos seus peritos. Assim, Zhu antecipava-se em quase um século a Colombo, Vasco da Gama, Cabral, Cook, Magalhães e outros navegantes-descobridores do Renascimento.
Mas quando voltou, outra China o esperava. O imperador visionário, responsável por mudanças progressistas, que incluíam aquelas navegações, fora derrubado pelos mandarins, os donos da Casa Grande na China, que não admitiam perdas em seus poderes feudais. Muitos documentos produzidos pelos geógrafos e astrônomos da frota de Zhu foram queimados por eles. Salvaram-se apenas os que se achavam sob a guarda de comandantes que levaram seus navios para o Japão.
É uma história que Menzies torna ainda mais fascinante. Com seu bem dosado mix de ciência e literatura, seu estilo transparente, livre da cascata de citações que hoje onera os textos universitários, ele atrai o leitor comum, levando-o a navegar, prazerosa e proveitosamente, pelo sereno mar de páginas de 1421.