Sem essa de lamentos e de querer jogar a culpa das ziquiziras de saúde nas superstições de calendário. Mas, realmente, o ano de 2014 não foi fácil para mim. No seu transcurso, sofri um infarto agudo do miocárdio (como dói!), somado a outras inconveniências físicas: uma gripe de matar idoso; cãibras nos pés e nas mãos que não me deixavam dormir à noite; uma complicada infecção urinária; a retirada com um bisturi do traiçoeiro câncer de pele que queria devorar um pedaço do meu rosto; e, finalmente, uma irritação na córnea, que se agravava com a baixa secura do ar, proporcionando a sensação de que estava morando numa cidade que tinha temperatura de deserto. É oportuno dizer que esse último desconforto climático não chegou a abalar meu amor por Brasília. E já tomei uma decisão irrevogável: se existe a tal da Reencarnação, como acreditam piamente os kardecistas, vou solicitar a São Pedro que me faça renascer aqui na Capital, se possível pelas mãos do médico Getro Artiaga.
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Aqui pra nós, confesso que, em determinado momento, tive a impressão de que estava próximo de embarcar para o Oriente Eterno, consumando a Viagem inexorável que todos nós, pobres ou ricos, teremos que enfrentar. Quanto aos ricos, convém lembrar que viajarão com o bolso vazio, tal qual aconteceu ao advogado milionário, morador na SQS 113, quadra em que também resido. Esse respeitável vizinho deixou fazendas, dezenas de imóveis e um montão de dinheiro para seus herdeiros, quando um assaltante antecipou a data de sua partida, aplicando-lhe 35 facadas. Mesmo sem saber onde fica o porto de desembarque nessa travessia do rio Jordão (conforme afirmam os evangélicos negros do Alabama), não cheguei ao ponto de me borrar de medo. E, certa noite, tive a coragem até mesmo de cantar com a voz do pensamento (para não acordar minha mulher), o lindo hino presbiteriano: “Da linda Pátria estou bem longe, / Cansado estou. / De Jesus eu tenho saudades, / Ó quando é que vou!…”
Não fui e não quero embarcar agora, apesar dos 89 outonos que completei em novembro, niver sobre o qual rabisquei aqui neste cantinho de página. E também porque pretendo concluir meu 12º livro, uma autobiografia escrita de memória (faltam cinco capítulos), que tem o título-roteiro “O Menino que Tinha Medo de Gente”. Se Deus permitir, pretendo transformar este Ano Novo de 2015 em vida nova. Que assim seja, Amém!