Gutemberg Fialho (*)
Existe uma máxima que escutamos a cada virada do calendário: ano novo, vida nova. A frase expressa uma necessidade emocional de superar as dificuldades e curar as cicatrizes dos eventos negativos enfrentados em tempos recentes. E é de fato um bom mote para começar este ano. Ainda mais depois dos momentos tensos e tristes que passamos durante a pior fase da pandemia da covid-19.
Um levantamento feito pela Universidade de São Paulo, em 2021, mostrou que o Brasil, em geral retratado como país tropical, do carnaval e do futebol, tinha uma população com 63% das pessoas acometidas por ansiedade e 59% afetadas pela depressão. Esse quadro foi agravado pela covid-19.No ano passado, a Organização Mundial da Saúde apontou o Brasil como o país mais ansioso do mundo, com mais de 19 milhões sofrendo desse mal.
O mundo inteiro enfrenta um quadro de desassistência à saúde mental. Dados da OMS apontam, por exemplo, que 71% das pessoas com psicose no planeta não acessam serviços de saúde mensal – situação pior nos países de baixa renda, onde apenas 12% com essa condição recebem os cuidados devidos.
Nos casos de ansiedade e depressão, a situação é ainda pior. E quando a condição é levada a sério – pois na maioria das vezes, não se dá a atenção devida ao quadro – as pessoas com esses problemas enfrentam a estigmatização, discriminação e acabam por sofrer abusos, ou bullying, por apresentar essa condição.
Não tratadas devidamente, essas condições levam o paciente a um quadro de sofrimento continuado e de degradação gradual de sua saúde, inclusive no aspecto físico. É muito comum chegarem aos consultórios médicos (não psiquiátricos) pacientes em busca de solução para sintomas que têm seu gatilho em problemas de fundo psicoafetivo. Muitas vezes sequer desconfiam de sua condição ou não querem reconhecê-la.
Tomando o caso do Distrito Federal, é extremamente necessário ampliar o atendimento à saúde mental da população – tanto pela adequação dos espaços de atendimento quanto pela complementação do quadro de profissionais de saúde e serviço social e pela disseminação de informação sobre os transtornos psicoafetivos.
Da mesma forma, é imprescindível que as pessoas se informem, saibam reconhecer em si mesmas e naqueles que os cercam os sinais de depressão, ansiedade ou de outros transtornos que, acredite, trazem prejuízos à vida pessoal, profissional, econômica e à rede de relacionamentos que a cercam.
Dê a si mesmo e às pessoas próximas a atenção e o cuidado devidos. Atenção à saúde física e à saúde mental e afetiva. Se algo não está bem, procure ou indique um serviço de assistência adequado. É um passo fácil e decisivo para ter vida nova neste ano novo.
(*) Presidente do SindMédico-DF