Filomena Madeira
A cidade de Olhos d’Água, com cerca de 3 mil habitantes, a 90 quilômetros do Distrito Federal, comemora 82 anos na quinta-feira (13). Mais conhecido pela famosa Feira do Troca, que chegou à sua 96ª edição em janeiro, o pequeno distrito de Alexânia tem pouco o que comemorar.
E este ano, o que seria motivo de festa virou preocupação, a partir do anúncio do padre Cleyton Garcia de que o Troca não poderá acontecer na praça central, alegando que o terreno do logradouro público pertence à Paróquia Santo Antônio.
É verdade que a comunidade se uniu – inclusive paroquianos da igreja Santo Antônio – em defesa da tradição. Afinal, a próxima Feira está programada para a primeira semana de dezembro, e boa parte da economia local gira em torno do evento que atrai turistas de várias cidades, especialmente de Brasília.
Assim, a comunidade passará o 13 de julho com os olhos cheios d’água e com o coração transbordando esperança de que o bom senso prevaleça, tanto em nome da preservação da história e da tradição, como em defesa da sobrevivência dos pequenos comerciantes e artesãos locais.
História
O nome da cidade vem do grande número de nascentes (olhos d’água). Ao redor desse ambiente bucólico formou-se um lugarejo de gente pacata, que enche de alegria e encanto os olhos e o coração de quem chega e daqueles que habitam a cidade. Uma gente que vive e admira a beleza do lugar e o talento, a criatividade e simplicidade de seu povo. Coisas que vêm da alma.
Esse talento e criatividade, associados ao espírito empreendedor dos habitantes, levaram Olhos d´Água a ser consagrada como a Capital Goiana do Artesanato. O distrito é a vitrine cultural do município. Pena que o poder público – especialmente a Prefeitura – explore tão mal essa imagem que, de longe, é o que Alexânia tem de melhor.
Falta d’água, enchentes e rio assoreado
Mas Olhos d´Água perdeu o bonde da história. Contrastando com seu próprio nome, é a água é o centro das preocupações. Durante a seca, a população sofre com a falta de água nas torneiras. O problema atinge principalmente os moradores da parte alta do distrito. Sem falar da poeira, razão principal do surto de doenças respiratórias que atinge especialmente crianças e idosos.
Na época chuvosa, o problema são as enchentes e alagamentos causados pela inexistência de drenagem. E as enxurradas acabam causando buracos que tornam as ruas intransitáveis. Em vez de construir galerias de águas pluviais, o máximo que a Prefeitura faz são paliativos, como operações tapa-buracos e patrolagem das vias de terra batida.
Principal curso d’água da região, o rio Galinhas sofre com o assoreamento e a poluição. Além disso, não se pode deixar de citar os transtornos com a falta de transporte público entre o distrito e a sede do município; a ausência de uma torre de celular – em casos de urgência, os moradores sobem o morro na entrada da cidade para captar o sinal –; inexistência de posto policial e de uma capela no cemitério para velar os mortos; coleta de lixo insuficiente em dias úteis e não realizada nos fins de semana.
Jovens e doentes de Chagas
Nesse ambiente misto, entre a paz e o sossego, a tranquilidade e a falta de infraestrutura urbana, os jovens são os mais penalizados, pela falta de oportunidades de estudo e de trabalho. As duas escolas públicas não oferecem opções para a prática esportes ou formação profissional. Assim, quem almeja um futuro melhor precisa sair morar para outro lugar.
Pior é a situação dos portadores da doença de Chagas, muito comum devido à grande incidência do inseto barbeiro na localidade. Não há uma campanha de informação e, tampouco, acesso ao tratamento. É urgente a criação de políticas públicas de amparo os chagásicos. E de um olhar mais carinhoso da Prefeitura de Alexânia pelo distrito carinhosamente apelidado de Zoin.