Mariluce Fernandes, do Seeb Brasília
Mais de 700 mil pessoas cometem suicídio, por ano, em todo o mundo. A cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida. Isto representa uma a cada 100 mortes registradas. Os dados são da OMS (Organização Mundial de Saúde), que reafirma a importância de que todos os países adotem estratégias de prevenção com eficácia comprovada.
“Se precisar, peça ajuda!” é o lema do Setembro Amarelo 2024, campanha lançada no Brasil em 2014 com esse objetivo. Em 10 de setembro é celebrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
O Setembro Amarelo engloba uma série de ações de prevenção ao suicídio, em especial baseadas na difusão de informação. Dados oficiais apontam que esta é a maior campanha antiestigma do mundo, com a proposta de quebra de tabus na discussão e no enfrentamento do tema.
Bancários
Embora o foco da campanha não se destine especificamente aos trabalhadores, o ambiente laboral ganha destaque em função do impacto significativo que a organização do trabalho pode ter na saúde mental.
A categoria bancária apresenta alto índice de suicídio no Brasil. De 1993 a 1995, por exemplo, quando ocorreram várias privatizações e reestruturações no setor, foram registrados 72 suicídios entre bancários – um a cada 15 dias. Outro levantamento mostra que, de 1996 a 2005, foram 181 casos (um a cada 20 dias).
Os óbitos de trabalhadores são desencadeados, segundo estudos, por adoecimento no trabalho. A pressão pelo cumprimento de metas inatingíveis para manutenção do emprego acaba levando os bancários ao adoecimento. De acordo com o Dieese, de 2012 a 2017, os bancos foram responsáveis por 15% dos afastamentos do trabalho devido a causas mentais.
Para o psiquiatra francês Christophe Dejours, o fato de as pessoas irem suicidar-se no local de trabalho tem um significado. “Os suicídios nos locais de trabalho são reveladores de profunda degradação da vida e da solidariedade, fato que não pode ser banalizado. É uma mensagem brutal e aponta ligação com as situações de trabalho”.
Você não está sozinho!
Em 2016, o Sindicato lançou a cartilha “Você não está sozinho! Cuidando da saúde mental do bancário”, que apresenta o perfil do bancário que procurou atendimento da Clínica do Trabalho da entidade nos dois anos anteriores. A cartilha orienta o bancário a como proceder quando perceber os sintomas de sofrimento mental.
“Muito se fala do acolhimento que podemos dar às pessoas que estão com a ideia de tirar a própria vida. Devemos sim, apoiar, oferecer escuta, acompanhamento. Mas muitas vezes é necessária a ajuda profissional, mais que tudo. É onde há uma escuta apurada, ou mesmo uma intervenção preparada para situações de maior gravidade. Em caso de necessidade, deve-se procurar profissionais, psicólogos, psiquiatras, ou até a intervenção de equipamentos públicos. Isso pode salvar vidas”, orienta a secretária de Saúde do Sindicato, Vanessa Sobreira.
A Clínica do Trabalho do Sindicato é um espaço de escuta e ajuda profissional, que atende os bancários e as bancárias com risco de adoecimento ocupacional ou já adoecidos, afastados ou não do trabalho. Se você estiver precisando de ajuda, acesse o link do Observatório de Saúde do Trabalhador:
Deve-se responder esse formulário e aguardar contato para o agendamento, que pode ser presencial ou online.
Tragédia por trás do lucro
O documentário “4 Contos, a tragédia por trás do lucro”, produzido pelo Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região e disponível no Youtube, trata da questão do suicídio especificamente dentro da categoria. A produção é baseada em testemunhos de bancários que estiveram próximos à decisão extrema de pôr fim à própria vida e mostra com bastante realismo como a pressão no ambiente de trabalho está relacionado ao suicídio.
Sinais de alerta
De acordo com o Ministério da Saúde, o suicídio pode ser prevenido. Saber reconhecer os sinais de alerta em si mesmo ou em alguém próximo a você pode ser o primeiro e mais importante passo. Por isso, fique atento se a pessoa demonstra comportamento suicida e procure ajudá-la.
Os sinais de alerta descritos abaixo não devem ser considerados isoladamente. Não há uma “receita” para detectar seguramente quando uma pessoa está vivenciando uma crise suicida, nem se tem algum tipo de tendência suicida. Entretanto, um indivíduo em sofrimento pode dar certos sinais, que devem chamar a atenção de seus familiares e amigos próximos, sobretudo se muitos desses sinais se manifestam ao mesmo tempo.
— Aparecimento ou agravamento de problemas de conduta ou de manifestações verbais durante pelo menos duas semanas
— Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança
— Expressão de ideias ou de intenções suicidas
Fiquem atentos para os comentários abaixo. Pode parecer óbvio, mas muitas vezes são ignorados:
• “Vou desaparecer”
• “Vou deixar vocês em paz”
• “Eu queria poder dormir e nunca mais acordar”
• “É inútil tentar fazer algo para mudar, eu só quero me matar”
Apoio
O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, por e-mail e pelo telefone 188, atendendo 24 horas todos os dias, voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo.