O candidato do DEM ao Palácio do Buriti, deputado Alberto Fraga, quer ser um governador no estilo prefeitão, seguindo a escola de Joaquim Roriz, seu primeiro padrinho político. “Quero ir para a rua fiscalizar as obras, ver a população”. Coronel da reserva da Polícia Militar, ele promete jogar duro com os bandidos, como fez em Ceilândia, quando comandou o Batalhão da PM.
“A segurança pública vai melhorar e eu sei como fazer isso. O povo não suporta mais a violência. Eu não tenho nenhum medo de falar que o bandido vai ter que pensar duas vezes. Nós vamos trabalhar duro e proteger a sociedade”, assegura.
Nesta entrevista ao Brasília Capital, Fraga se defende da condenação a quatro anos de prisão por cobrança de propina. Garante ser inocente e aponta para dois adversários (Rodrigo Rollemberg e Ibaneis Rocha) como suspeitos de terem “mexido os pauzinhos” na Justiça para tirá-lo do segundo turno das eleições. “Não tem prova alguma contra mim. Eu não tenho dúvida de que foi uma jogada política e de que essa sentença será refeita”.
O senhor respeita o povo? – Eu respeito. E quero ser um governador que vai respeitar o povo no governo, coisa que o atual governador não faz.
Como ele desrespeita o povo? – Tirando a qualidade de vida do cidadão de Brasília. Saúde uma porcaria, a segurança pública um desastre. Temos 15 delegacias fechadas. Não temos policiamento nas ruas. Ele é tão negligente que parece que não sabe que o homem e a mulher envelhecem. A Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil estão com dificuldade de fazer o policiamento porque seus quadros estão altamente defasados. Em 2003, a PM tinha 16 mil homens. Quinze anos depois, tem 10.800 homens.
E quanto à defasagem salarial… – Há muito tempo sem nenhum reajuste. Mas não é só o policial. A maioria dos servidores públicos também está sem reajuste. Mas esta é uma questão que temos que ter cautela ao falar. Eu acho justo e legítimo o direito de melhoria salarial. Mas o que se sabe é que esses dois últimos governos quebraram o DF e nós temos que ter um pouco de cuidado. Eu quero assumir o governo, pagar o que deve, pagar as dívidas, pra depois pensar no que será feito.
Rollemberg diz que nesses três anos arrumou a casa, a mesma coisa que o senhor está falando que vai ter fazer. Acha que realmente a casa estava tão desarrumada? – Ele disse que tinha um déficit de R$ 6,5 bilhões. Acredito que o primeiro ano é para fazer tudo isso: arrumar a casa. Agora, ficar nesse discurso três anos e meio é incompetência também, é falta de gestão. É conversa para boi dormir.
A configuração das coligações é resultado de um racha no seu grupo político, que lançou quatro candidatos. Por que tanta desavença? – Porque todo mundo acha que pode ganhar do governador que aí está. Aliás qualquer um dos quatro ganha, de tão ruim que ele é. Eu achei ruim ter divido o grupo, mas mesmo assim a campanha indica que o povo não quer o que está aí. O próprio Brasília Capital antecipou que o Rollemberg iria partir para o ataque durante o debate para tentar reverter a rejeição.
O senhor acaba de ser condenado a quatro anos de prisão por cobrança de propina à época em que foi secretário de Transportes. O que isso influencia na campanha? – Esse processo é de 2007 e vem se arrastando há onze anos. Ao receber as alegações finais de um dos envolvidos no processo, em dois dias, num final de semana, um juiz de primeira instância, de forma monocrática, resolveu me condenar a quatro anos.
Baseado em quê? – Não tem prova contra mim. Ele me condenou baseado na palavra de um motorista de lotação que foi expulso da cooperativa por ter desviado dinheiro. Eu não tenho dúvida de que essa sentença será refeita.
Mas isso causa uma reviravolta… – Claro que causa. O eleitor abre o jornal e vê uma manchete enorme dizendo: Fraga condenado. Isso mexe com a cabeça do povo. Mas quem me conhece sabe que eu jamais iria me envolver com cooperativas, que foram criadas para entrar no lugar das vans. Se eu tivesse que me envolver com corrupção seria melhor eu ter ficado com os empresários de ônibus, que têm muito mais dinheiro. É uma condenação política para confundir o eleitor.
Quem poderia ter mexido esses pauzinhos na Justiça? – Eu não gosto de acusar sem provas, mas existe um indício muito forte: como o governador sabia dessa sentença antes mesmo da minha defesa saber? Os meus advogados não sabiam de nada e ele já sabia o teor da sentença.
Mas não é só o Rollemberg que tem interesse em desgastá-lo na briga para ir ao segundo turno… – Sabemos que o candidato Ibaneis (Rocha, do MDB) tem muita ligação o Tribunal de Justiça. Já foi presidente da OAB-DF, é articulado, é milionário, porque ganhou várias ações a favor dos servidores públicos. Mas eu não tenho provas. Quem vai me julgar é o povo. Nós vamos apelar. Não tenho dúvida de que serei inocentado.
Qual o sentimento que o senhor tem em relação a esse julgamento do povo? – É que nós vamos ganhar a eleição. O povo não suporta mais ver tanta desorganização na cidade. Mesmo com essas notícias, eu ainda recebo o carinho do povo, porque as pessoas que me conhecem sabem que eu jamais iria me envolver numa situação dessa. Não posso ser responsabilizado por alguém que disse que foi pegar dinheiro em meu nome. Não autorizei ninguém a fazer isso. Estou sendo julgado e condenado por algo que não fiz. Não existe nada me ligando a essa pessoa. Ao contrário, existe declarações dessa pessoa dizendo que quem deu o dinheiro nunca teve contato comigo. Mas, infelizmente, o juiz preferiu acreditar na palavra de alguém que foi expulso de uma cooperativa porque estava roubando dinheiro.
O seu partido, o DEM, está na coligação do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB). Mas o seu candidato do coração é Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as pesquisas. Como está sendo isto? – É uma saia justa. Embora eu tenha minha orientação partidária, sou amigo do Bolsonaro há 39 anos. Nós fizemos Educação Física juntos. Eu não tenho como dizer que apoio outro. O PSDB foi muito importante na nossa coligação. Procuro respeitar ao máximo.
Mas quando o Bolsonaro fez campanha em Brasília caminhou ao lado do general Paulo Chagas (PRP)… – Ele deu apoio porque o general é da farda. Mas o Paulo Chagas nem é do partido dele. Eu quero que alguém me mostre um momento em que o Bolsonaro diz: “meu candidato é Paulo Chagas”. Nunca disse! Ele sabe que tem esse “problema” comigo. A mesma saia justa que eu tenho em não assumir a ligação com o PSDB, ele tem com relação ao general. A minha relação com Bolsonaro é uma amizade de décadas.
E dessa amizade existe compromisso político? – Existe. No segundo turno, com certeza, ele vai apoiar a minha candidatura. Não tenho dúvidas disso. Até mesmo porque temos conversado muito sobre isso. Anteontem eu recebi um áudio dele, se recuperando, dizendo que vamos estar juntos.
É bom para o Brasil essa polarização Bolsonaro X Haddad? – O que não é bom é ter o PT de volta. Isso não é bom. Não é possível que o povo vai esquecer. O País está quebrado. Fomos assaltados durante 13 anos.
Mas o PT é pior do que a ditadura, como tivemos durante o regime de 1964? – Eu penso o seguinte: ao contrário do que muita gente acredita, o Bolsonaro não pensa em implantar uma ditadura no Brasil.
Mas ele defende a tortura e rende homenagens ao general Brilhante Ustra... – Não… O Ulstra lutou contra as guerrilhas, contra os comunistas que lutavam armados e queriam tomar o poder de forma violenta. O coronel Ustra era uma das resistências. Não quero entrar no mérito, mas os petistas querem mudar a História. Se você analisar friamente o que aconteceu em 1964, não houve um golpe. Golpe é quando as Forças Armadas resolvem agir sem consultar ninguém. Nós tivemos marchas de mulheres, apoio da Rede Globo. Quer dizer… As Forças Armadas receberam, à época, o apoio da sociedade brasileira.
Mas depois vieram os Atos Institucionais… – Sim, o AI 5, aquela confusão toda… Mas o fato é que os exilados que fugiram voltaram e se tornaram grandes autoridades do país. Presidente, ministros. E aí tentam mudar a história contando outra versão. Eu prefiro ficar com a realidade.
O quê Brasília pode esperar de Alberto Fraga, ex-secretário de Arruda, e que substituiu Jofran Frejat (PR), que justificou a desistência alegando que estava cercado de diabos? O senhor já identificou esses demônios? – (Risos). Até agora eu não encontrei com o diabo.
O senhor é um deles? – Com certeza, não. Pelo contrário. Eu tenho o apoio e a confiança do Frejat. Eu já havia decidido que ele seria meu candidato ao governo, porque estava consolidado na disputa ao Senado. Mas o grupo decidiu que eu seria o candidato se o Frejat desistisse. Conseguimos trazer o Izalci, que abriu mão da candidatura ao Buriti para me apoiar.
O Izalci diz que recuou do projeto porque foi traído pelo grupo do Cristovam, do Rosso… – Exato. Todo mundo acompanhou o que aconteceu. Mas agora eu quero ser aquele governador no estilo prefeitão. Que vai para a rua fiscalizar as obras, ver a população, como eu fui na Ceilândia, quando comandei o Batalhão da PM. A segurança pública vai melhorar e eu sei como fazer isso. O povo não suporta mais a violência. Eu não tenho nenhum medo de falar que o bandido vai ter que pensar duas vezes. Nós vamos trabalhar duro e proteger a sociedade.
Na sua época na Ceilândia existia uma máxima na cidade de que bandido bom era bandido… – Morto!
E morria um bocado, né? – Quem trocava tiro com a polícia morria. Se o sujeito troca tiro com a polícia, imagina com um cidadão de bem, o que é que ele vai fazer? Respondi a vários inquéritos. Graças a Deus fui absolvido em todos. Por isso que digo: não tenho medo de processo; tenho medo das injustiças. Processo foi feito pra gente responder.
Mas nessas trocas de tiros só morriam bandidos de origem humilde… – Mesmo de origem humilde, continua sendo bandido. Bandido pode ser de origem humilde ou de origem rica, é bandido. É aquele que vive à margem da lei. Se enfrenta a Justiça ou a polícia, qual é a intenção desse cidadão?
E os direitos humanos? – Os direitos humanos é uma política totalmente deturpada no nosso país. Eu prefiro defender os humanos direitos. São esses que merecem o nosso respeito. Eu não conheço nenhum caso em que os direitos humanos vai visitar a família de um policial assassinado em seu trabalho. Não conheço nenhuma visita dos Direitos Humanos a uma família da viúva que perdeu o marido, o pai de família que levava sustento para casa. Por isso, que cada um fique na sua. É claro que eu não sou contra os direitos humanos, mas de forma correta; não direitos humanos como sinônimo de defender bandido.
O senhor tem passeado com o Átila? – O tempo está curto. O Átila é um belo cachorro. Mas esta foi uma conversa que o Rollemberg inventou porque não teve argumentos para falar dos abusos que ele cometeu na orla do Lago, em virtude da sentença que ele não cumpriu. A sentença não fala em 30 metros. E ele derrubou as casas das pessoas avançando os 30 metros.
Mas como democratizar a orla? – Ele deveria fazer o que eu anunciei que vou fazer: pegar os 11 pontos de frequência e dar uma estrutura digna para a pessoa ir para lá, levar sua família. Terá banheiro, lanchonete, lixeira. Mexer com a segurança dos moradores mostrou que ele é incompetente. A sentença não fala em desocupação parcial, fala total. E se é total, a lei diz cinco metros. É o que diz o artigo 62 do Código Florestal. Mas ele mora no Park Way e invadiu quase 12 mil metros de área pública…
Quais os seus planos para a Saúde do DF? – Nossa principal meta é reforçar os postos de saúde, a bandeira do Jofran Frejat. Vamos colocar um pediatra, um clínico geral e um ginecologista nos postos, que terão remédios e funcionarão 24 horas por dia. Assim vamos desafogar os hospitais em 80%.
Caso o senhor seja eleito, Brasília não corre o risco de novamente ter um governador que venha a ser preso, devido à sua condenação? – Não existe essa possibilidade. Eu tenho certeza absoluta de que esses processos foram colocados por perseguição política pelo ex-governador Agnelo Queiroz (PT). Como meu nome não constou em nenhum momento na Operação Caixa de Pandora, ele determinou aos delegados, que infelizmente atenderam ao pedido dele, que tinham que me envolver no processo. Para se ter uma ideia, eu tenho uma condenação por posse ilegal de armas. Logo eu, que sou colecionador, atirador, coronel da polícia. Isso mostra que realmente a Justiça não pode entrar na política. Acontece coisas assim, difíceis de explicar.
O seu aliado Arruda também recebeu uma condenação… – Isto é uma questão de ordem pessoal. Cada um responde por seus atos. O que eu defendo é que ele foi um excelente governador, bom para o povo. Fui secretário dele e fizemos muita coisa por Brasília. Nas questões pessoais cada um carrega a sua cruz.
Alguns de seus adversários, que já foram aliados dele, tentam desgastar sua imagem devido a essa aliança… – Eu diria que são uns covardes. A maioria sempre fez parte do nosso grupo. Outros tentam disfarçar. É o caso do Ibaneis Rocha (MDB). Ele se apresenta como novidade, dizendo que não faz a velha política. Esconde da população que sempre bancou, com dinheiro do próprio bolso, as campanhas da velha política da esquerda. A prestação de contas nos tribunais eleitorais do País estão aí para quem quiser checar. Ele financiou os candidatos a senador Cláudio Aldemário Araújo Castro (PSOL), em 2014; a deputado federal Roberto Policarpo (PT), em 2010; a senador Wellington Dias (PT), em 2006; e o vereador Antônio Costa do Nascimento (PTB).
Pergunta de leitor, via Facebook: Quais as suas propostas para a educação? – Nós temos que tirar a educação dessa situação vergonhosa em que hoje se encontra. O Distrito Federal já foi o primeiro lugar nos índices do Ideb, e hoje ocupa um dos três piores lugares do Brasil. Então, tem alguma coisa errada. O que está acontecendo? Por que os nossos alunos estão com esse rendimento tão abaixo dos índices, se se investe tanto em educação e os resultados são pífios?
O que a população do DF pode esperar de um governo comandado por Alberto Fraga? – Eu serei um governador que vai respeitar o povo. Quero dizer que quando você se elege governador, você não é melhor que ninguém. Você tem que ter humildade, tem que ir para as ruas, tem que andar. Deve ser o governador de todos e não apenas daqueles que votaram em você. O governador é o servidor público número um do povo. Ele tem que ter respeito pelo povo. Eu quero fazer um governo respeitando o povo, protegendo e levando melhorias para aqueles que realmente precisam, que são os menos favorecidos. É esse o governador que eu quero ser e tenho certeza que Deus vai me dar essa chance. Eu sou do grupo do Roriz, que veio do Arruda, que trouxe desenvolvimento para nosso Distrito Federal, e não esse atraso dos últimos nove anos.