Uma conversa de apenas cinco minutos com o pioneiro e jornalista Mário de Almeida remonta aos anos da construção de Brasília. Também leva aos bastidores das negociações do ex-presidente Juscelino Kubitschek. A clareza com que conta os fatos, as datas e os nomes é admirável. A fala mansa e o jeito doce de tratar os outros não escondem a determinação e a garra do homem que pisou pela primeira vez nos canteiros de obras de Brasília para pagar os serviços da Nova Companhia Urbanizadora (Novacap). Aos 93 anos, não se deixou acomodar e continua trabalhando, além de ser um avô e bisavô de mão cheia.
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Mário de Almeida recebeu a reportagem em um apartamento da Asa Sul, onde mora com uma das filhas. Sentado no sofá, ele faz questão de mostrar a Carteira de Trabalho, assinada pela última vez em 2009; a primeira credencial de imprensa que lhe dava acesso aos representantes do alto escalão nacional; além de outros documentos, como uma carta de agradecimento do ex-governador Joaquim Roriz. Ao lado, o fiel escudeiro, o gato Bartolomeu. “Aonde eu vou ele vai atrás”, explica. Mário alerta que todo velho é chato e cheio de manias, mas ele é “bonzinho”, brinca.
O pioneiro chegou a Brasília em 12 de janeiro de 1958. Veio do Rio de Janeiro em um avião que aterrissou na atual estação rodoviária. Mário foi recebido pelo tesoureiro da Novacap. Na mala, além dos pertences, trazia cinco sacos de dinheiro para pagar os serviços da companhia. “Era assim que se fazia transferência naquela época”, esclarece. Na ocasião, ele atuava como auxiliar do Gabinete da 3ª Subchefia da Presidência da República e a missão foi uma ordem de ninguém menos que o então presidente Juscelino. Mário conhecia JK desde a época em que governava Minas Gerais, entre 1951 e 1955. A contar do primeiro dia em que pisou na terra avermelhada do cerrado, Mário nunca mais largou a cidade. A primeira noite passou no Hotel Rio de Janeiro, na Cidade Livre, atual Núcleo Bandeirante. “Aquilo era um faroeste moderno. Os jipes substituíam os cavalos. E chovia muito. Era um lamaçal só”, recorda.
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