Convencionou-se chamar de “geração Nem Nem” os jovens que não trabalham nem estudam – e sequer se casam – e moram na casa dos pais mesmo após completar 30 anos de idade. Águas Claras tem 11 anos, como região administrativa, e nesse período foi a cidade que mais cresceu no Distrito Federal. Somando-se a população da parte vertical à do Areal, de Arniqueiras e da Área de Desenvolvimento Econômico (ADE), estima-se que sejam cerca de 200 mil moradores.
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Toda essa gente vive sem direito a equipamentos públicos, como escolas, creches, hospital, centro de saúde, delegacia de polícia, quartel de bombeiros e de Polícia Militar. E, pelo que se pôde perceber na reunião do Conselho de Segurança (Conseg), na segunda-feira (26), à qual compareceram quase 200 pessoas, Águas Claras continuará, ainda por um bom tempo, sem esse tipo de infraestrutura urbana. As autoridades presentes foram unânimes em deixar claro que o GDF não existem projetos, nem intenção e muito menos dinheiro, a curto prazo, para esses investimentos.
Eleita deputada distrital e com votação expressiva na Região Administrativa (RA-XX), Telma Rufino (PPL) é responsável pela indicação da administradora Patrícia Fleury. Presentes ao encontro de segunda-feira, ambas deixaram claro que as dificuldades serão muitas nos próximos meses. “Não estou aqui para iludir ninguém. Sou direta. Vamos trabalhar muito, mas não podemos nos comprometer a resolver tantos problemas num período muito curto”, disparou Telma.
Para amenizar o que chamou de “restrições orçamentárias do governo”, Patrícia Fleury espera contar com as emendas parlamentares de Telma Rufino e com o apoio de outros órgãos do GDF, como a Secretaria de Obras, a Novacap e o SLU – Serviço de Limpeza Urbana. Também intensificará o diálogo com as construtoras de prédios para obter as chamadas compensações – benfeitorias em áreas públicas em troca do impacto causado à cidade. Assim, pretende revigorar calçadas, promover a poda de árvores, capina e varrição de ruas, implantação de quebra-molas e manutenção das redes de águas pluviais, com o desentupimento de bocas-de-lobo.
A nova administradora regional prometeu “incomodar” a Companhia Energética de Brasília (CEB) para transformar em subterrâneas as dezenas de subestações de energia existentes na cidade. Segundo ela, os “monstrengos” poluem o visual da cidade e a grande maioria foi construída de forma provisória. Mas o diretor técnico da CEB, Paulo Afonso, disse ao Brasília Capital que esta demanda é “praticamente impossível de ser atendida”, devido aos altos custos das obras.
Em outra ponta, Patrícia Fleury foi pessimista ao avaliar a demanda do Conseg de resolver a questão dos prédios abandonados que acabam se transformando em pontos de encontro de marginais e consumidores de drogas. “A maioria desses empreendimentos é consequência de processos judiciais, como a falência de cooperativas habitacionais”, exemplificou.
As palavras de Telma Rufino e Patrícia Fleury foram corroboradas pelas intervenções dos representantes da área de segurança pública. O delegado Márcio Salgado, coordenador da área Oeste do DF, lembrou o corte de 70% da verba para obras da Polícia Civil, determinado pelo governador Rodrigo Rollemberg (PSB), como medida de economia, para adiar o sonho da comunidade de ter uma delegacia exclusiva para Águas Claras.
O titular da Central de Flagrantes e da 21ª DP, que atende a cidade, Alexandre Dias Nogueira, também não tem esperança de que a reivindicação seja atendida nos próximos dois anos, apesar do compromisso do ex-governador Agnelo Queiroz (PT) de que a próxima delegacia de polícia civil a ser criada no DF será a de Águas Claras.
O chefe o Comando de Missões Especiais (CME), coronel Gilson Oliveira Leal reiterou o compromisso da Polícia Militar em prevenir crimes. E pediu a colaboração da população, que pode tomar alguns cuidados básicos, como não permitir que entregadores de comida subam aos apartamentos e de pessoas que se distraem na rua, por exemplo, usando o celular, sem se dar conta da aproximação de assaltantes. “Já vi mulheres de shortinho ou minissaia, passeando de madrugada nas ruas com seus cachorrinhos, e falando ao celular. É o tipo de atitude que facilita a ação dos meliantes”, advertiu. Já o comandante do 17º Batalhão de Polícia Militar, coronel Daniel Pereira, lembrou que o corte de receita da corporação para este ano será da ordem de 50% em relação a 2014. Ele informou que o 17º BPM está desenvolvendo um aplicativo para redes sociais, exclusivo para Águas Claras, que dispensará o uso do telefone 190 pelos cidadãos.
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O comandante do 25º Grupamento de Bombeiros, que atende a cidade, major Gomes, apresentou um memorando sobre a construção do quartel. Segundo ele, o cronograma de obras está adiantado em 20%, graças à estiagem deste início de ano. O investimento total será de R$ 6,128 milhões e a previsão de entrega é para março de 2016.
O diretor-geral do Detran, Jaime Amorim, prometeu melhorar a fiscalização e a sinalização da cidade, para evitar acidentes e melhorar o fluxo de veículos, uma das grandes reclamações dos moradores. “A reunião foi muito positiva e demonstrou a coesão da comunidade no encaminhamento de nossas demandas. Resta, agora, o GDF perceber que a população de Águas Claras é de classe média, recolhe impostos e tem os mesmos direitos de qualquer cidadão. Não se justifica uma cidade deste porte ser totalmente desprovida de equipamentos públicos para serviços essenciais básicos”, encerrou o presidente do Conseg, Alexandre Maciel, que reiterou a posição do anfitrião da noite, Ruben Ferreira, proprietário do Restaurante do Rubinho.