Há um ano, a aprovação da Lei 14.785, sancionada em dezembro de 2023, trouxe preocupações ao flexibilizar o controle sobre essas substâncias, representando um grave retrocesso social, ambiental e climático. Conhecida como “pacote do veneno”, a nova legislação enfraquece normas de segurança que vinham sendo aprimoradas ao longo dos anos, ampliando o risco de impactos negativos à saúde da população e ao meio ambiente.
Esse contexto exige uma reflexão profunda, especialmente no Dia Mundial de Luta Contra os Agrotóxicos, em 3 de dezembro, data que marca a resistência global contra práticas que comprometem a sustentabilidade alimentar.
Alternativas naturais – Apesar do avanço do “pacote do veneno”, o Brasil conta com iniciativas que buscam contrabalançar esses impactos. O Programa Nacional de Bioinsumos, por exemplo, promove o uso de alternativas naturais aos agrotóxicos, contribuindo para a redução de resíduos químicos nos alimentos e no solo.
Já o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara) visa diminuir a dependência dessas substâncias no campo, incentivando práticas agrícolas mais sustentáveis.
Além disso, o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) fomenta a transição para sistemas agroecológicos, que aliam a produção de alimentos saudáveis à conservação do meio ambiente.
Esses programas, no entanto, enfrentam desafios na implementação, agravados pelo cenário regulatório permissivo, uma vez que os impactos do uso indiscriminado de agrotóxicos vão além das fronteiras agrícolas.
Estudos indicam que essas substâncias afetam negativamente a biodiversidade, contaminam recursos hídricos e contribuem para a degradação do solo. Ademais, práticas agrícolas intensivas e químico-dependentes estão associadas à emissão de gases de efeito estufa, agravando a crise climática.
Do ponto de vista da saúde pública, a exposição contínua aos agrotóxicos está relacionada ao aumento de doenças crônicas, como câncer e distúrbios neurológicos, o que reforça a necessidade de políticas públicas que priorizem o bem-estar da população e a preservação dos recursos naturais.
Mobilização – A mobilização contra os agrotóxicos, portanto, não é apenas uma luta ambiental, mas uma questão de justiça social e de garantia do direito humano à alimentação adequada e saudável.
O Dia Mundial de Luta Contra os Agrotóxicos deve ser visto como uma oportunidade para fortalecer o debate sobre o modelo agrícola brasileiro, pressionando por regulamentações mais rígidas e o incentivo a práticas agroecológicas.
Somente com o apoio da sociedade civil, de pesquisadores, agricultores e governos será possível construir um sistema alimentar que respeite o meio ambiente, promova a saúde e enfrente os desafios climáticos de forma efetiva.