O segundo-sargento Manoel Silva Rodrigues, preso terça-feira (25) por transportar 39 quilos de cocaína em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) não é um Mané. No mínimo, é um malandro infiltrado. Segundo o Portal da Transparência, desde 2011 ele já fez 29 viagens pelo Brasil e para o exterior, várias delas com o grupo presidencial. Ele fazia parte da equipe que chegaria um dia antes a Osaka, no Japão, para preparar a chegada da comitiva oficial do presidente Jair Bolsonaro (PSL) para do encontro da cúpula do G-20, que reúne os presidentes das maiores potências do planeta.
O jato da FAB fez uma escala em Sevilha, na Espanha. Mané, ou melhor, o malandro… ou melhor, o segundo-sargento da Aeronáutica desembarcou carregando uma sacola e uma mala de mão. Quando os inspetores do aeroporto revisaram sua bagagem encontraram 37 pacotes de cocaína, pesando 39 quilos, no total. O carregamento apreendido foi avaliado pela Guarda Civil espanhola em 1,3 milhão de euros (R$ 5,6 milhões), faltando ainda detectar a pureza da droga, informaram ao jornal El País fontes próximas à investigação.
Se o sargento agia sozinho ou costumava transportar esse tipo de mercadoria ilícita em voos anteriores é o que o Palácio do Planalto precisa esclarecer. O Ministério da Aeronáutica instaurou Inquérito Policial Militar (IPM). A conclusão ocorre em 40 dias, prorrogáveis por mais vinte, se necessário.
Bolsonaro desvia a rota
Mané, ou melhor, o malandro… ou melhor, o segundo-sargento da Aeronáutica, recebe salário bruto de R$ 7.298, mora na Asa Sul de Brasília, a 8 Km do Palácio do Planalto, mas, por hora, está hospedado por tempo indeterminado numa prisão na Espanha. Diante do escândalo, a comitiva de Bolsonaro desviou a rota. Em vez de pousar em Sevilha, seguiu para Lisboa, em Portugal. Lá, o presidente não teve contato com jornalistas. No retorno ao Brasil a escala foi remanejada para Seatle, nos Estados Unidos.
Chegando ao Japão, ao ser abordado pela imprensa sobre a prisão de Mané, ou melhor do malandro… ou melhor, do sargento da Aeronáutica, Bolsonaro irritou-se com as perguntas acerca do tráfico internacional de droga flagrado em um avião da Presidência da República. E ainda tentou tirar alguma vantagem, ao lembrar que o militar já participara de comitivas de seus antecessores: “na primeira viagem nossa ele deu azar, ‘créu’. É melhor ‘já ir’ se acostumando porque conosco é assim”. Em seus arroubos, o presidente esqueceu-se de um detalhe: o flagrante foi feito por autoridades espanholas, e fora do Brasil.
Mas o mau humor do presidente não aplacou a ironia do The New York Times: “Bolsonaro prometeu perseguir implacavelmente os traficantes de drogas. Agora, está duramente pressionado para explicar como um avião presidencial transportou 39 quilos de cocaína através do Atlântico durante uma viagem oficial”, escreveu o correspondente do jornal norte-americano no Rio de Janeiro, Ernesto Lodoño. O título da reportagem é cortante: “White Powder, Red Faces: Cocaine Cargo Aboard Brazil Presidential Plane” (“Pó branco, rostos vermelhos: a carga de cocaína a bordo do avião presidencial do Brasil”).
Segundo o texto de Lodoño, “apesar do extraordinário constrangimento para Bolsonaro, ele exaltou a integridade e o profissionalismo das Forças Armadas brasileiras (FAB) e chamou de inaceitável´ o que aconteceu, prometendo uma
punição severa´ para o envolvido”.
Bolsonaro, mais uma vez, atacou a imprensa ao ser indagado sobre mensagem ao G20 e críticas da primeira-ministra alemã, Angela Merkel, com quem não se encontrou, como estava previsto. Também não se reuniu com o presidente francês, Emannuel Macron. Com ambos, as divergências giram em torno da política ambiental defendida pelo atual governo brasileiro.