O vazamento de trechos dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa teve efeitos distintos nas campanhas de Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves (PSDB). Enquanto a presidente e candidata à reeleição ignorou o assunto nas visitas que fez a estados nordestinos ontem — coube ao PT e a integrantes da campanha classificarem as declarações de “eleitoreiras” —, o tucano reforçou a gravidade das denúncias. Segundo Costa, PT, PMDB e PP receberam propina cobrada em contratos superfaturados da estatal para financiar campanhas. Para Aécio, as informações são “extremamente graves”. Ele prometeu, caso eleito, “desmontar o aparelhamento da máquina pública”.
Dilma nem sequer mencionou os desdobramentos do escândalo, mas bateu boca com o rival nas redes sociais e falou da exploração petrolífera. Em um dos posts, ela disse que lutou para “aprovar que os royalties do pré-sal sejam direcionados para a saúde e a educação”. Internamente, no entanto, o PT estuda como evitar que as denúncias prejudiquem a campanha de Dilma.
\”Corrupção institucionalizada\”
O presidenciável Aécio Neves (PSDB) afirmou ontem que a corrupção foi “institucionalizada” na Petrobras e voltou a definir o esquema de propina na empresa como “o maior escândalo da história”, ao comentar o conteúdo da gravação do depoimento do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa à Justiça Federal.
“O vazamento da delação premiada aponta na direção de algo institucionalizado, que envolve diretamente o tesoureiro (João Vaccari Neto) do partido político que governa o Brasil há 12 anos. Agora, começa-se a se compreender quais seriam aqueles belos serviços que constavam da ata de afastamento do diretor Paulo Roberto Costa”, disse Aécio, em coletiva de imprensa no Rio de Janeiro. No último debate presidencial, antes das eleições, o presidenciável do PSDB havia ironizado o fato de Costa ter sido elogiado por colegas na época do desligamento do diretor da Petrobras. Tudo foi documentado em ata.
Aécio também destacou o suposto envolvimento do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, nos casos de desvio de verbas da estatal. O tucano ainda fez uma retrospectiva e lembrou da prisão do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, condenado no julgamento do mensalão à pena de oito anos e 11 meses por corrupção ativa e formação de quadrilha. “O ex-tesoureiro do PT foi condenado e foi preso exatamente por utilizar dinheiro público. Ele foi sucedido por esse tesoureiro, que foi denunciado pelo próprio grupo, da própria quadrilha”, disse.
O candidato tucano aproveitou para defender bandeiras como a “profissionalização das empresas públicas e das agências reguladoras” e a diminuição de cargos comissionados. “O Estado brasileiro tem que ter compromisso com resultados, e não com a companheirada”, disse.
Agenda
O tucano será recebido amanhã pela viúva do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), Renata Campos, na casa da família no Recife. Esse é o primeiro evento organizado pelo PSB desde o anúncio do apoio à candidatura de Aécio, na quarta-feira. A participação de Renata é considerada fundamental para o crescimento da votação do candidato no estado — Marina Silva, substituta de Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em agosto, ganhou em Pernambuco no primeiro turno — e a diminuição da distância em relação a Dilma no Nordeste.
Em coletiva de imprensa no Rio ontem, Aécio comentou as condições apresentadas por Marina Silva (PSB) antes de ela se manifestar sobre apoio no segundo turno (leia mais na página 5). O tucano não se mostrou disposto a mudar de postura em relação a propostas como a redução da maioridade penal. “Todas as sugestões serão muito bem-vindas, não podemos abdicar do que é essencial para o país”, disse, reforçando que tem mais convergências do que divergências com Marina.
Aécio também comentou a declaração de Dilma Rousseff sobre uma ameaça ao ganho real do salário mínimo e de um governo sem atenção aos pobres, em caso de vitória tucana. “Esse tipo de atitude, de leviandade, não está à altura do cargo de presidente da República.”
O tucano recebeu ontem apoio do PSDC, que estava com o candidato a presidente José Maria Eymael no primeiro turno. O vice-presidente do Pros, partido da coligação da presidente Dilma, senador Ataídes Oliveira (TO), também declarou apoio a Aécio.
Representação arquivada
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, arquivou representação do PT que pedia que Aécio Neves (PSDB) fosse investigado por causa da construção de um aeroporto em Cláudio (MG), em seu segundo mandato como governador de Minas Gerais. O governo do estado gastou cerca de R$ 14 milhões com o terminal, que fica em uma área de propriedade de parentes do tucano. Segundo a denúncia, só eram permitidos pousos com a autorização de familiares de Aécio. Janot entendeu que não há indícios de improbidade administrativa ou uso irregular de verbas públicas que justifiquem uma investigação criminal.
A estratégia da comparação
No dia em que vazou o depoimento à Justiça no qual o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa revelou que o PT recebeu propina de 2% e 3% dos contratos da estatal, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo partido, se calou. Em extensa agenda no Nordeste, ela não fez nenhum comentário sobre o caso e ignorou as denúncias. Em Maceió, ela se limitou a repetir o discurso de que combate a corrupção sem tréguas, “doa a quem doer”. “O meu governo não varre a corrupção para debaixo do tapete.”
A maratona de visitas a cinco estados do Nordeste em dois dias foi encerrada com a consolidação do tom da campanha no segundo turno: a presidente tentará ficar longe das polêmicas e baterá na tecla de comparação das gestões petistas e tucanas, com foco na análise entre a postura dela e a de Luiz Inácio Lula da Silva em relação a Fernando Henrique Cardoso e a administração do candidato do PSDB, Aécio Neves, em Minas Gerais.
Nas passagens por Bahia, Sergipe e Alagoas, a presidente mirou em FHC. Ela criticou a declaração do ex-presidente, de que o PT cresceu no país com o voto dos menos informados, feita na segunda-feira, e disse estar “preocupada” com a afirmação. Segundo Dilma, os adversários fazem uma comparação “ridícula” entre o Sudeste e o Nordeste. Ela acrescentou ainda que há uma visão preconceituosa e elitista. “Estão dizendo que meus votos são os dos ignorantes, e os dos letrados são deles. Eles não andam no meio do povo, não dão importância ao povo. Querem desqualificar, destilar um ódio mal resolvido”, disse. Ela destacou também que, desde 2003, 4 milhões de empregos formais foram criados no Nordeste, 1 milhão no governo dela. “Não concordo em aumentar a desigualdade de renda. Nós levamos mais qualidade de vida para os nordestinos e nordestinas. Lula e eu”, disse.
O discurso da petista incluiu alfinetadas ao rival tucano, com a intenção de se mostrar como a única candidata capaz de manter as conquistas dos últimos 12 anos. “Somos diferentes dos nossos adversários. Quando tivemos oportunidade, nós fizemos. Quando tivemos condições, fizemos. E vamos fazer muito mais. Não sei se vocês notaram, mas meu adversário do PSDB tem a mania de dizer que tudo que fizemos e deu certo, ele vai continuar. É muito engraçada essa mania. Por que não fizeram antes, quando tiveram oportunidade?”, disse, repetindo declaração publicada em redes sociais (leia abaixo). Na lista de realizações dos governos dela e do ex-presidente Lula, ela ressaltou o aumento do salário mínimo e a baixa taxa de desemprego. “Enquanto o mundo desemprega, nós criamos 21 milhões de empregos com carteira assinada. Nós defendemos o emprego e o salário dos brasileiros diante de qualquer crise econômica.”
“Onda”
A presidente disse ainda que “ninguém controla” o voto do eleitor. “Eles vão olhar para a urna e pensar no que é bom para o país e para o povo. Ela aproveitou os eventos no Nordeste para pedir uma “onda que convença as pessoas a votar no 13”. Em Salvador, ela se declarou “meio pardinha” e brincou: “Já disse que, depois que eu deixar de ser presidenta, vou ver se consigo ali um espaçozinho para tocar no Olodum. Até perguntei se o pessoal aceita branco, porque eu sou meio pardinha”.
“Já disse que, depois que eu deixar de ser presidenta, vou ver se consigo ali um espaçozinho para tocar no Olodum. Até perguntei se o pessoal aceita branco, porque eu sou meio pardinha”
Dilma Rousseff (PT), presidente da República e candidata à reeleição