Cristovam Buarque (*)
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As palavras só têm impacto político quando assinadas por líderes. Durante o velório de Eduardo Campos, representantes do Sindicato dos Professores de Timbaúba (PE), carregavam faixa com a frase: “No dia em que os filhos do pobre e do rico estudarem na mesma escola, o Brasil será o país que queremos. Ass: Eduardo Campos”. A afirmação mostra que ele era um candidato diferente. Primeiro, por acreditar em uma meta ambiciosa para o país, que os outros não imaginaram; segundo, por propor ideia que exige planejamento de longo prazo, recusado pelos candidatos; terceiro, por acreditar que o vetor do progresso está na educação de qualidade para todos.
Tivesse vivido mais alguns dias, ele possivelmente apresentaria a estratégia de como seu governo iniciaria a construção deste Brasil, dizendo: “O meu governo adotará as escolas das cidades cujas prefeituras não disponham de recursos financeiros e humanos para oferecer educação de qualidade para todas as suas crianças. Desde que o pedido venha da cidade e o processo siga um ritmo definido pelo governo federal, de acordo com a disponibilidade de recursos financeiros e humanos”.
Para essas cidades, enviaria professores de uma Carreira Nacional com bom salário, selecionados com rigor, comprometidos com dedicação exclusiva e sujeitos a avaliações periódicas. Construiria escolas confortáveis e as equiparia com o que há de mais moderno em tecnologia da informação para a área pedagógica. Faria com que todas as escolas tivessem um regime de aulas em horário integral. E diria que o custo desta revolução seria de R$ 9.500 por aluno por ano, comparado com os atuais R$ 3 mil.
Em 20 anos, supondo crescimento de apenas 2% ao ano para o PIB, o custo total para todas as escolas de todas as cidades ficaria em 6,6% do PIB atendendo os 46 milhões de alunos estimados para 2034. O sonho de Eduardo Campos poderia ser realizado e ainda deixariam livres 3,4%, dos 10% do PIB, previstos pela Lei nº 13.005/14 do PNE para outros gastos com educação.
Sua frase contém um sonho possível para a riqueza e a capacidade técnica do Brasil. Sua realização exigiria um presidente com visão de longo prazo, capacidade de diálogo e articulação para construir a base política necessária. Sua morte deixou órfãos todos que sonham e acreditam nessa proposta e a vêm como o caminho para construir “o Brasil que queremos”.
Mas um líder político não morre, ele entra na História, deixando seus sonhos e suas propostas para que outros continuem sua luta. Neste ano de 2014, seria bom se algum ou alguns dos candidatos aceitassem carregar a bandeira do Eduardo Campos exposta na faixa durante seu velório. Se, como parece provável, nenhum deles se sensibilizar, por não acreditar no sonho, considerá-lo inviável ou não o desejar por preferir manter a educação como um privilégio dos que podem pagar por ela, o Brasil não desistirá, esperará por outro candidato que, no futuro, adote o Eduardo, porque a bandeira continuará viva mesmo depois de sua morte.
(*) Professor da UnB e senador pelo PDT-DF.