Manoel se despede da literatura
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O ano de 2014 foi a prova de que esta vida é mesmo passageira. Levou personagens ilustres conhecidos dos brasileiros, como o ex-futebolista Bellini, o ator José Wilker, o cantor Jair Rodrigues, e os políticos Plínio de Arruda Sampaio e Eduardo Campos.
Na quinta-feira (13), foi a vez do poeta mato-grossense Manoel de Barros. Antes dele, 2014 também tinha sido o marco final das passagens de outros poetas e escritores, como Moacyr Cirne, Santo Souza, Ivan Junqueira, Mário Pereira, Abelardo da Hora e Ariano Suassuna.
Manoel de Barros morreu às 8h05 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) doHospital Proncor em Campo Grande (MS). Ele tinha 97 anos e desde fevereiro, quando sofreu um acidente vascular cerebral, dependia de uma sonda alimentar. O poeta não conseguia mais se comunicar. Na terça-feira (11), segundo seu irmão Abílio Leite de Barros, já não reconhecia mais ninguém.
Representante do pós-Modernismo, o mato-grossense ganhou dois prêmios Jabuti de Literatura, em 1989 e 2002, e outros 11 prêmios. Entretanto, o maior deles não veio com gratificação, mas com o reconhecimento. Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta vivo do Brasil em favor de Manoel de Barros.
Seus mais de 30 livros publicados e o reconhecimento por todo Brasil não fizeram o poeta esquecer suas raízes. Após passar por Rio de Janeiro, Bolívia, Peru e Estados Unidos, o Manoel Barros voltou para Campo Grande, onde passou a viver como criador de gado e de inesquecíveis poesias.
O apanhador de desperdícios // Manoel de Barros
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Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.