A cada 21 de abril ressurgem imagens da epopeia da construção de uma cidade em meio ao Cerrado. Os registros, porém, raramente trazem fotos das pioneiras que ajudaram a erguer Brasília. Segundo o censo experimental do IBGE, em 1959 as mulheres somavam cerca de 50% da população de do Distrito Federal à época. Eram, ao todo, 21.982 pioneiras. Dessas, 2.966 tinham trabalho formal ou informal – muitas vezes ligado à construção da capital.
Alice Maciel, enfermeira de 86 anos, foi enviada a Brasília em 1959 pelo Serviço Nacional de Tuberculose. Ela conta que levava medicamentos e atendia doentes no DF e em Goiás. Também tratava dos que se feriam no trabalho de construção da cidade. “Algumas mulheres trabalhavam em casa, outras eram professoras. Não existiam lugares públicos de diversão, mas a gente queria superar e criar a cidade. Nossa vida social era nos acampamentos e nas casas uns dos outros”, conta a pioneira.
A lavadeira Josefa Carmelita da Silva França, 74, chegou a Brasília em 1960 e lembra das pedras no caminho entre Currais Novos, no Rio Grande do Norte, e o Planalto Central. “Vim de pau de arara, com dois filhos e grávida de sete meses. Passamos 10 dias no caminho, com chuva. A gente viajava sentado juntinho nos estrados de madeira, até completar aquele caminhão de gente. O joelho encostando nas costas do outro. A alimentação vinha num saco guardado num canto – atrás, na frente, ou do lado”.
Na tela
A história das pioneiras serviu de inspiração para a pesquisadora Tânia Fontenele produzir o filme Poeira & Batom — no planalto central. \”Quando falava das mulheres, só citavam dona Sarah Kubitschek ou dona Júlia Kubitschek, mãe do presidente. E eu sempre via que essa história estava mal contada”, diz a cineasta.
Segundo Tânia, não havia nenhuma evidência histórica ou estudo que mostrasse a participação das mulheres na construção de Brasília. “Elas ficavam secundarizadas, sem nome”, diz. A pesquisadora conta que só na biblioteca, em revistas da década de 1960, encontrou registros das pioneiras que ajudaram a erguer Brasília.
Para a pesquisadora, o papel da mulher na sociedade vem crescendo gradativamente. “Hoje, não se pode dizer que tem alguma profissão que não tenham mulheres. As mulheres já estão em todas as áreas e, profissionalmente falando, o número de mulheres é muito alto”.
Para ela, apesar do avanço na sociedade, o preconceito ainda está presente. “As mulheres ainda ganham salários mais baixos, são sub-representadas, na política há baixíssima participação das mulheres. Ainda somos uma sociedade muito machista, violenta. Os índices de feminicídio são altíssimos, e não sem razão está havendo toda essa mobilização nas redes sociais”, afirma.
(*) Com informações de Gabriel Lima e Giovanna Pereira, da Agência UniCeub} else {