J. B. Pontes (*)
Para permanecer no poder, Bolsonaro teve que ceder o controle do seu desgoverno ao Centrão e à elite econômica, representada por Paulo Guedes. Bolsonaro sempre pertenceu ao Centrão, um agrupamento informal de partidos políticos cujo objetivo principal é “levar vantagem em tudo”.
Os parlamentares que o integram são hábeis na prática do toma-lá-dá-cá no jogo sujo da política. E Bolsonaro entregou a eles o controle da parte mais importante do governo, o orçamento público, em troca do apoio político e, principalmente, para evitar a abertura do processo de impeachment, objeto de mais de 140 requerimentos.
E os integrantes do Centrão fizeram e fazem a festa com o dinheiro público, por meio do orçamento secreto - cuja dotação neste exercício alcançou R$ 16,2 bilhões -; das emendas individuais e de bancadas infladas (R$ 16,8 bilhões); e da investida sobre os orçamentos de órgãos do Poder Executivo ou a ele vinculados. Alguns exemplos são o Ministério do Desenvolvimento Regional, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales o São Francisco e do Parnaíba.
Para agradar e alcançar o apoio da elite econômica entregou a gestão da economia a Paulo Guedes, o ”posto Ipiranga”, que supostamente teria solução para tudo nessa área. Guedes teve, assim, a possibilidade de, com toda liberdade, executar as medidas econômicas e sociais defendidas pelo Instituto Millenium – IMIL, do qual foi ele um dos fundadores, retomando a agenda neoliberal do governo Fernando Henrique Cardoso.
O Instituto Millenium é uma instituição formada por um conglomerado de intelectuais ideológicos de direita, favoráveis à proposta neoliberal, cujos mantenedores, parceiros e patrocinadores são, entre outros, a Editora Abril, O Estado de S. Paulo, o Grupo RBS, a Abert, a Universidade Estácio de Sá, Gerdau e Suzano, Porto Seguro Seguros, Bank of America Merrill Lynch e Rede Globo.
O IMIL é voltado essencialmente à defesa do direito de propriedade e da livre iniciativa. Defendem privatizações, o sistema financeiro, a redução dos direitos sociais, combate qualquer política afirmativa por parte do Estado e faz campanha contra a regulamentação das comunicações. Atua como um verdadeiro partido político de ideologia direitista.
Fica fácil, portanto, entender a agenda econômica e social adotada pelo desgoverno Bolsonaro: sucateamento do Estado; desvalorização dos servidores públicos; entrega do patrimônio público (privatizações); ampla liberdade para o empresariado; e retirada dos direitos dos trabalhadores.
Os resultados dessa política estão agora explícitos: os banqueiros, os grandes empresários, o agronegócio, dentre outros, lucrando como nunca e o Estado cada vez mais fraco e sucateado. Em contrpartida, os trabalhadores e o povo em geral estão mais pobres e famintos.
É esse o governo que agora, no desespero pela possibilidade concreta de não ser reeleito, diante da enorme desaprovação e rejeição popular, quer o voto dos pobres. Lança irresponsavelmente, a menos de três meses das eleições, um pacote de bondades, válido somente até o próximo dezembro, para tentar enganar o povo.
Tenho certeza de que a sabedoria popular saberá enxergar o objetivo eleitoreiro dessas bondades anunciadas de última hora, cujo objetivo é comprar o voto popular com recursos do Tesouro, ou seja, de todos nós. Vamos desmascarar esse imbróglio em outubro, nas urnas eletrônicas.
(*) Geólogo, advogado e escritor