No recente falecimento do ator e produtor de espetáculos Luiz Carlos Miele, tomei um susto quando a câmera da TV Globo focalizou as inúmeras pessoas que compareceram ao seu concorrido velório, dia 15, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Boa parte eram músicos e cantores que faziam parte de seu círculo de amizades profissionais. E fiquei assustado ao rever, na referida solenidade fúnebre, personagens com quem cruzei nos bons tempos de boemia saudável das noites cariocas. Eles, a esta altura, absolutamente irreconhecíveis, não fossem citados os seus nomes de batismo ou pseudônimos artísticos.
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Nesse rol de macróbios, quem mais me chocou foi Roberto Menescal. Capixaba que migrou para o Rio ainda jovem, via-o quase todas as semanas, quando aparecia às tardes de sextas-feiras na redação da revista Manchete, na rua Frei Caneca, para encontrar seu amigo Bôscoli. Em seguida, embarcavam num fusquinha para consumar o hobby de ambos: mergulhar e arpoar lagostas no fundo do mar do hoje badalado litoral de Búzios (então quase deserto). E quando ficou famoso como compositor da MPB, Menescal chamava a atenção pela boa pinta de galã, balançando o coração das moçoilas cariocas. Mas sua aparência no velório de Mieli era de um caco humano: feio, velho e alquebrado (*).
Como exceção à regra, o corpo sem vida de Luiz Carlos Miele não foi massacrado pela maquillage do tempo, como a maioria de seus colegas que compareceram para lhe prestar a última homenagem. Falecido subitamente aos 77 anos, no caixão funerário seu rosto permanecia ainda com os bonitos traços de show-man, não aparentando velhice precoce, talvez porque sempre cultivou o bom humor, irradiando alegria aos seus circunstantes, inclusive a este escriba, quando o conheci fazendo um trio com Ronaldo Bôscoli e Elis Regina, nos meados da década de 1960.
Ao contrário de seu parceiro Ronaldo, que mudava de mulher da mesma forma como trocava de cuecas, Miele só teve um grande amor em vida: a agora viúva Anita Bernstein, com quem era casado há 47 anos. Sobre essa rara fidelidade conjugal, ele revelou o segredo a um repórter: o casal usava banheiros separados.
(*) Meu Deus, como o passar do tempo maltrata nosotros (idosos), circunstância desfavorável que me deixa temeroso até de me olhar no espelho!
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