Quando chegou ao Brasil, a televisão passou a ocupar o lugar da geladeira (na sala de estar!), e – como ainda existiam casas, suas janelas ficavam abertas para que os vizinhos pudessem desfrutar daquela maravilha da comunicação. Mesmo num preto e branco chegado a riscos na horizontal e na vertical da telinha.
Como os vizinhos se amontoavam nas janelas para assistir à choramingosa O Direito de Nascer, os donos dos aparelhos de TV deixavam que os mais íntimos entrassem em casa e assistissem, sentados nas poltronas, aos suspiros da novela.
Daí surgiu a expressão televizinho. Um apelido que agora volta ao ar – sem os confortos de se assistir a novela da janela da casa (!) ao lado.
Ocorre que, com a quantidade de canais e opções da TV a cabo – e o preço que você paga para assistir, nessa época do ano, a centenas de filmes de Natal –, tudo volta a ser como dantes.
Quem ficou de fora da assinatura dos canais que podem ser definidos como a TV a cabo da TV a cabo (Netflix, Disney+ etc. e tal), virou novamente um televizinho.
No caso que reporto, sugiro não se importar com a maledicência que vem junto com a definição de um ser humano como televizinho.
Trata-se da série baseada no Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez, produzida pela Netflix. Não pergunte se a série é melhor ou pior do que o livro, se existem ou não lacunas, se é ou não cinema raiz.
Assista, apenas. E volte a ser um televizinho orgulhoso. Mesmo sem janelas de onde assistir à série.