Davi Silva saiu de casa aos 13 anos de idade para pegar verduras no Ceasa e ajudar sua mãe a criar os nove filhos, contando com ele. Foi ali, em meio à dificuldade, que encontrou um refúgio. Sempre cantando e trabalhando com palavras positivas, ele aprendeu a tocar violão e a encantar quem passasse por sua vida.
Mas o talento de Davi, hoje com 45 anos, foi realmente reconhecido quando ele passou a frequentar o Centro Pop de Brasília e, depois a unidade de Taguatinga, onde conheceu o músico Luciano Nunes, que o incentivou a se juntar à banda Vozes da Rua.
Essa experiência marcou o início de uma nova fase, na qual a música não era apenas um escape, mas um caminho de transformação. “O Centro Pop, para mim, foi uma direção”, reconhece Davi. “Claro que eu tive que ceder a essa direção. E não é toda coisa que a gente quer ceder, principalmente quem ficou na rua muito tempo. Mas sempre gostei de cantar e trabalhar com palavras positivas”.
Inspiração – No dia de seu aniversário de 42 anos, Davi ganhou um equipamento de som que o ajudou a continuar seu trabalho como DJ. Essa assistência que recebeu do Centro Pop do Plano Piloto, com suporte material e emocional, foi fundamental. Sua história ganhou um novo capítulo quando a Defensoria Pública conseguiu garantir-lhe um apartamento, oferecendo-lhe uma nova perspectiva de vida.
“Estou muito feliz. Mais uma vez, foi o Luciano que me deu todo apoio para conseguir esse apartamento. Eu já estava meio desacreditado, procurando outro tipo de recurso, quando comecei a falar com ele da minha situação e ele não hesitou em me ajudar. O Centro Pop de Taguatinga foi transformador na minha vida”, agradece.
Sua trajetória de superação é um testemunho inspirador. Agora, Davi está ansioso para participar de projetos como a recuperação de bicicletas, demonstrando que, com apoio e determinação, a vida segue sempre em frente, e cada um pode reescrever a própria história.
Estratégias para oferecer dignidade
Além do projeto Vozes da Rua, o Centro Pop de Taguatinga criou o Pedal Cidadão. Ambos buscam reintegrar essas pessoas na sociedade, ensinando uma profissão. O Vozes da Rua, segundo seu idealizador, Luciano Nunes, especialista em Assistência Social, auxilia as pessoas em situação de rua a terem acesso à cultura e, em alguns casos, nova perspectiva profissional.
A proposta inicial era ensinar as pessoas que passavam pela unidade a tocar violão e outros instrumentos, o que resultou na formação da banda de mesmo nome. A qualidade do grupo ganhou reconhecimento. “Somos convidados para eventos e já chegamos a tocar no Clube do Choro”, orgulha-se.
Luciano explica que a banda, da qual ele também faz parte, foi constituída com recursos próprios dele e com doações. Mas o trabalho é difícil devido à falta de recursos. “É muito legal, mas há muitos equipamentos aqui comprados com nosso dinheiro. Alguns necessitam de manutenção, e precisamos de recursos para os deslocamentos”, explica.
Pedal Cidadão
No projeto Pedal Cidadão, as pessoas em situação de rua que frequentam o Centro Pop têm a oportunidade de aprender a profissão de mecânico de bicicleta. “Eles consertam a bicicleta aqui dentro do nosso espaço, podendo utilizá-la depois. Porém, mais do que o pertence, eles podem aprender uma nova profissão”, comenta Amanda Campina, gerente do Centro Pop de Taguatinga.
Ela esclarece que o Centro Pop é um equipamento que opera no âmbito da proteção social especial do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), onde são servidas quatro refeições diárias. Além do acolhimento, oferece uma gama de serviços que visam a reintegração social e o fortalecimento dos direitos humanos.
Acolhimento
A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes-DF) oferece diferentes modalidades de acolhimento para pessoas em situação de rua. Duas das principais formas são as casas de passagem e os abrigos institucionais, que atuam de maneira similar, mas com diferenças em termos de duração do acolhimento.
As casas de passagem dão um prazo máximo de 90 dias de acolhimento aos usuários, proporcionando um suporte temporário enquanto as pessoas encontram soluções para sua situação. Já os abrigos institucionais adaptam o tempo de permanência conforme a necessidade individual do usuário, com flexibilidade de acordo com cada caso específico.
Atualmente, todas as parcerias para execução do Serviço de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias na Sedes são realizadas na modalidade Casa de Passagem. Um exemplo é a unidade localizada na QNA 8, em Taguatinga Norte, que opera seguindo esse modelo.
Saiba +
Para atender ao público adulto e às famílias em situação de rua, a Sedes dispõe de duas unidades de execução direta que oferecem o total de 142 vagas. Além disso, conta com 17 unidades de execução indireta, operadas por três Organizações da Sociedade Civil que mantêm termos de colaboração com a Sedes, disponibilizando 720 vagas adicionais.
Esses serviços são prestados por OSCs parceiras, distribuídas nas Regiões Administrativas de Taguatinga, São Sebastião, Ceilândia, Itapoã, Gama e Planaltina. Essa rede visa ampliar o alcance do acolhimento e garantir que mais pessoas em situação de vulnerabilidade tenham acesso a um suporte adequado e digno.