Não foi só campo da Saúde que os indígenas da Amazônia foram prejudicados. Também na educação infantil eles foram renegados ao esquecimento nas gestões dos ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL). As duas gestões deixaram de implantar cinquenta escolas em cinquenta comunidades indígenas de 22 grupos étnicos do Alto Rio Negro.
As 50 escolas atenderiam 3.300 crianças indígenas e já contavam com recursos alocados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para serem edificadas. De 2007 a 2015, o governo Dilma Rousseff elaborou um projeto de implantação de 528 escolas para a comunidade indígena em todo o país, em parceria com governos estaduais e municipais.
Quando do impeachment, em 2016, 64% dessas escolas tinham sido executadas ou estavam em implantação. Entretanto, apesar de pactuados 53 colégios, nenhum foi materializado nas localidades do território étnico-educacional do Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira, Santa Izabel do Rio Negro e Barcelos.
Foi então desenvolvido um projeto piloto com 50 unidades de ensino. Seriam beneficiados povos Yanomamis, Baré, Warekena, Arapaso, Bará, Barasana, Desana, Karapanã, Kubeo, Makuna, Miriti-Tapuya, Pirá-Tapuya, Siriano, Tariana, Tukano, Tuyuka, Kotiria, Taiwano, Dow, Hupda, Nadöb, Yuhupde, Baniwa e Coripaco.
Dezoito escolas chegaram a ser licitadas no último ano do governo Temer, a um custo total de R$ 39,8 milhões. Mas o governo Bolsonaro, que começou em 2019, não as executou. Além do ensino às crianças e adultos, essas escolas se tornariam importante polos para servir de base a outras ações de apoio aos povos indígenas. As crianças contariam com a merenda escolar, evitando-se o quadro de desnutrição, que faz lembrar os horrores de países como Somália e Biafra, na África.
Respeito às culturas
Ao contrário de outras iniciativas desse perfil, as 50 edificações propostas buscavam respeitar as especificidades de cada povo. Sob o ponto de vista de ambientação e de respeito às culturas, as escolas representam uma inovação dentro das melhores práticas de sustentabilidade e foram previamente debatidas com as próprias comunidades.
“A existência dessas unidades escolares seria um forte instrumento para combater as mazelas pelas quais passam os povos indígenas”
salienta o engenheiro Rudybert Barros von Eye, à época vinculado ao projeto do Ministério da Educação.
Havia a necessidade de se superar as dificuldades construtivas de escolas. Como se sabe, nas áreas em que elas precisam ser edificadas, insumos como ferro, cimento, brita, telhas são mais difíceis de se obter.
Optou-se, então, por desenvolver um projeto de edificação que atendesse as melhores práticas de sustentabilidade em questões relativas à arquitetura, captação de água pluvial, energia a partir de painéis fotovoltaicos e tratamento natural de efluentes.
A tipologia definida respeitaria, ainda, à tradição cultural de cada etnia contemplada. A maioria dos 22 grupos étnicos do Rio Negro optou por um modelo arquitetônico que remetesse à “maloca”. Dessa forma, houve emprego de grande quantidade de madeira, sem renunciar ao emprego de novas tecnologias.
Artigo – A informação de abandono das escolas particulares vem a público, agora, por meio de artigo acadêmico de autoria de Rudybert Barros von Eye, atualmente doutorando de Arquitetura; Márcio Augusto Roma Buzar e Júlio Eustáquio de Melo, professores de Arquitetura da UnB.