Temos, absurdamente, 57 policias para o Brasil com 27 unidades federativas. São 27 polícias militares diferentes, 27 polícias civis, Policia Federal, Policia Rodoviária Federal e a Força Nacional, todas com identidades visuais diferentes, regulamentos internos e disciplinares diferentes, atuações diferentes. Isto significa 57 orçamentos bilionários anuais diferentes, 57 tratamentos diferentes que, se permanecerem neste formato, continuará a repetição dos fracassos do passado e as brigas pelas mesmas misérias. Tantos uniformes diferentes que, por vezes, não distinguimos o que são policias de vigilantes ou outros trabalhadores. Às vezes, tudo não se parece com nada, menos ainda com a polícia.
Os ideais de fortalecimento da polícia somente serão alcançados se a pensarmos como unidade. As estruturas físicas, os escalonamentos funcionais e as atribuições policiais são suscetíveis de ajustes e aglutinação. A previdência ora vigente de cada um pode ser preservada. Para os novos egressos uma nova previdência deve ser elaborada. Deve-se firmar de imediato um teto mínimo salarial. Só assim criaremos uma identidade nacional e uma polícia internamente mais justa com todos os seus integrantes. Há estados onde policiais recebem salário de miséria. Isto tem que ser resolvido. Não adianta trocar os telhados e mudar a cor das paredes, não se resolve com maquiagens. O problema reside na estrutura da base.
Necessário é corrigir as falhas estruturais do passado. Temos que demonstrar ao presidente eleito Jair Bolsonaro que precisamos de unidade. Unidade de projeto, de progresso, de doutrina, de força, de pensamento e de ação. Uma única formação. Os mesmos procedimentos. Uma máquina enxuta e simplificada. Um único espírito de corpo e de colaboração. Experiências profissionais trocadas em prol de um melhor resultado. Um único departamento pessoal. Um poderoso e completo banco de dados criminais e informações. Uma similaridade de equipamentos e procedimentos operacionais. Simplificamos as ações, unificamos as estruturas, aglutinamos os modelos de êxito, aumentamos a eficácia, harmonizamos os trabalhos e, consequentemente, diminuímos os custos.
Por muito tempo lutamos calados, estivemos esquecidos no frio por décadas, sofremos na carne os efeitos da opressão dos poderosos, da incompetência e dos desmandos do coronelismo político de vários governos desgovernados. Fomos divididos, isolados, catalogados como sobras de um fundo perdido e como cobaias de experimentos sociais bizarros. Fomos expostos a realidades e doenças sociais diversas para divertir alguém que satiricamente dizia: vamos ver até quanto suportam. E dentro de tudo isso, muitos de nós não percebemos que toda essa dor que nos foi exposta tentou nos desconstruir como homens para transformar-nos em uma sociedade de animais.
Recuperamos as chaves dos portões de Gulag. Quebramos as grades que nos impediam voar. As crianças querem brincar pelas ruas sem medo de serem estupradas e mortas. E o caminho que um dia foi cheio de tortuosidades agora tem que perder suas voltas. Ressuscitamos o ideal do progresso.
Agora, vemos um enorme cortejo de eloqüentes criminosos, autênticos e diversificados, travestidos de bons homens, altivos, mas assustados, vindo ao nosso encontro para fugir de suas antigas contas. Querem reter em suas mãos o poder. Insistem em nos manter presos, divididos e nos fazer duelar polícia contra polícia. Querem nos isolar e nos alimentar com míseras partes de um todo que de fato pertence a todos os homens. Ainda não entenderam que estamos vivos e mais livres que antes.
Há poucos dias conquistamos o recorde mundial de assassinatos. Este insigne presente do diabo nos foi oferecido pelo desgoverno suicida de inescrupulosos governantes, doutos em um Direito que desconhece o que é Justiça. Agora, já sabemos que seremos livres, mas ainda não temos nossa Carta de Alforria. Se lá no passado somente os negros eram escravizados, até ontem, éramos todos nós.
Acreditamos no discurso da Unidade, da colaboração mútua, da união das forças, no progresso humano e do Estado, na cura das feridas sociais, na retomada da ética, na simplificação do processo, no respeito e amor ao próximo. É bem óbvio que vivemos uma anomalia formal. Tantas polícias para um mesmo Estado. Que crimes são esses tão diferentes que separam praças dos agentes e oficiais dos delegados?
As apurações criminais não são muito diferentes. Os inquéritos, na essência, são muito semelhantes. Não se combatem crimes sem seções de inteligência. E tudo isso são partes inerentes a todas as policias. Uma comanda, outra investiga, mas ambas comandam e investigam. A militarizada utiliza farda, mas a outra, em muito, também se apresenta fardada. Várias policias, pouca eficiência, informações dispersas, milhares de crimes não solucionados, comunicações interrompidas, deficiências na qualidade, vários mandatários, vários desmandos, enfrentamentos e rixas. Vaidades.
Precisamos estancar as vaidades pessoais para juntar os pedaços desta mesma espada que um dia foi repartida e perdeu suas forças. Nacionalizar a polícia seria o ideal, e deixá-la sob o comando do Ministério da Justiça a tornaria mais justa, mais imparcial, menos suscetível de influências políticas. A polícia não deve estar vinculada aos governadores de estados, que até hoje, como todos sabem, utilizam dessas forças da maneira que melhor lhes convém ou acreditam ser a melhor. O resultado trágico disso é um país campeão unânime de diversos crimes.
Por vezes, essas mesmas polícias são ou foram utilizadas para satisfazer demandas pessoais, resguardar patrimônios pessoais, proteger poderosos e influentes, oferecer segurança distinta para comunidades nobres e tratar de forma tímida as comunidades carentes. A polícia não deve existir como polícias particulares. Devemos ser uma Polícia igual para todos.
Antes, tínhamos uma pequena espada para digladiarmos com os leões da criminalidade. Agora, temos espada e escudo, mas temos que unir e lutar para romper os muros. A raiz tem que ser a mesma e os demais órgãos devem trabalhar juntos em um único corpo, saudável e limpo. Nesta ótica, uma policia ideal, forte e eficiente, menos onerosa, mais simplificada, deve desconsiderar qualquer viés político ou ideológico na sua construção. A policia não deve estar subordinada aos políticos, mas ao Ministério da Justiça. Essa Unidade de Policia Nacional somente dará certo se for construída levando-se em conta os critérios técnicos e a sensibilidade à causa por seus participantes e por um grupo de trabalho isento de participações de agentes políticos.
Não há mais espaço para duelo entre polícias, para se ver qual a melhor ou qual receberá mais atenção ou melhor salário. Isso é escravidão. Isso é passado. Todas as forças policiais querendo duelar!? E para a população, nada? Acordem. Éramos parte de tudo isso até ontem. Bem-vindos à Polícia do Futuro.