Agência BrasíliaProfessores,
assistentes e temporários, pais e alunos de cinco escolas públicas foram
convocados pelo governo do Distrito Federal, no sábado (17), a opinar sobre a
militarização daquelas unidades de ensino. Duas delas – o Gisno, da Asa Norte,
e o CEF 407, de Samambaia, disseram não à proposta de gestão compartilhada.
No
entanto, o governador Ibaneis Rocha (MDB) não se conformou com o resultado da
consulta. E anunciou que a medida seria implementada de qualquer forma. “Fizemos
os estudos. Todos os indicadores demonstram que o novo modelo vai melhorar a
condição das escolas. Por isso, vou implementar a medida”.
A
declaração de Ibaneis foi dada na segunda-feira (19). E ele completou: “na
legislação, observamos que a votação tem efeito apenas consultivo, e não
vinculante. Nossa área jurídica já está preparando os pareceres que vão amparar
a implementação”.
Ao
reiterar a decisão de implementar a gestão compartilhada com a
Polícia Militar nas escolas que rejeitaram o novo modelo, o chefe do Executivo
ainda aproveitou para atacar seus adversários políticos: “chega de
esquerdismos, chega de esquerdopatas… Se quiserem suspender, que vão à
Justiça”.
Ibaneis
também está determinado a prosseguir o processo de consulta para adoção do novo
modelo em outras escolas da rede pública. O objetivo dos plebiscitos, segundo
ele, é explicar à comunidade o sistema de administração compartilhada entre as
secretarias de Educação e de Segurança.
“Não
vou deixar a cidade ser aprisionada por uma esquerda que ficou no passado. Teve
a oportunidade de governar e não fez nada pela cidade”, completou, rebatendo as críticas do
Sindicato dos Professores (Sinpro) e da bancada de oposição na Câmara
Legislativa.
Facadas aumentam a polêmica
A
discussão em torno da militarização ganhou mais repercussão com dois episódios
lamentáveis. Ainda na segunda-feira (19), um estudante foi esfaqueado em
frente ao mesmo CEF 407 de Samambaia que dois dias antes rejeitara a gestão
compartilhada. Isto deu gás a Ibaneis.
“Isso
não é uma disputa entre sindicato e governo. Entre esquerda e direita. O
governo tem a sua posição. E vai implementar as escolas [compartilhadas]”. Até
o final do mandato, o governador planeja instalar 40 colégios militarizados no
DF.
As declarações de Ibaneis foram dadas no
início da tarde de segunda, durante solenidade de entrega de cadeiras de rodas
no Hospital da Criança. Em seguida, ele foi à Câmara Legislativa apresentar o
projeto de criação da Secretaria da Pessoa com Deficiência. Abordado por
parlamentares contrários à gestão compartilhada, reagiu.
“O
governo federal está implementando escolas militarizadas. E eu não vi ninguém
do PT ser contra”. O clima esquentou entre ele e Fábio Felix (PSol), que perguntou
se o GDF não poderia adotar o novo modelo em outras escolas que não fossem
aquelas que haviam rejeitado a proposta. “Vocês não cumpriram o acordo”,
disparou, em referência à suposta interferência do Sinpro na eleição do Gisno.
“Não
é uma questão de direita ou esquerda, mas de desrespeito a uma posição da
maioria das comunidades escolares que rejeitaram o modelo. Repudio a postura do
governador. Ele foi desrespeitoso não comigo, mas com a Casa”.
Após o esfaqueamento do aluno, a PM cercou a quadra em torno do Centro de Ensino de SamambaiaNa
quarta-feira (21), os argumentos do GDF voltaram a perder força. Um garoto de
14 anos foi esfaqueado por outro de 15, que disse sofrer bullying do colega. O
ataque ocorreu na porta do Centro de Ensino 7, em Ceilândia, uma das unidades
onde a militarização está implementada desde fevereiro. “O Batalhão Escolar tem
que agir do lado de fora e no entorno, e não no interior das escolas”, explorou
o Sinpro. Ibaneis calou-se.
Manifestações contra e a favor
Um
grupo de 40 pais e alunos do CEF 407 protestou contra o resultado da
votação. No Gisno, a manifestação foi contrária a militarização.
Professores e estudantes promoveram um abraço simbólico na escola.
No
Centro de Ensino de Samambaia, o placar foi 58,49% para a não adoção, enquanto
41,38% dos pais, professores, funcionários e alunos optaram pela implantação da
medida. No Gisno, os votos negativos somaram 57,66%; os positivos, 42,33%.
Contra a militarização, alunos e professores deram um abraço no Gisno.
Foto: Reprodução vídeo/MetrópolesOutras três
escolas fizeram a consulta e deram aval para adotar a gestão
compartilhada: CEF 1 do Núcleo Bandeirante, CED 1 do Itapoã e CEF 19 de
Taguatinga. No último dia 10, a mudança também foi aprovada pelo CED Estância
III, de Planaltina.
A
intenção da Secretaria de Educação é que o novo modelo entre em vigor nas
próximas duas semanas. Atualmente, 7 mil alunos de quatro escolas são atendidos
no novo modelo. Com a entrada de novas escolas, o número vai dobrar.