Tersandro Vilela (*)
Imagine um mundo onde máquinas não apenas obedecem a ordens, mas também desenvolvem consciência própria. Essa ideia, tão presente nos debates sobre inteligência artificial (IA) nos dias de hoje, nasceu há mais de um século, quando a palavra “robô” foi usada pela primeira vez.
Usada pelo dramaturgo tcheco Karel Čapek em 1920, na peça “R.U.R. – Rossum’s Universal Robots”, o termo “robô” tem suas raízes na palavra tcheca “robota”, que significa servidão ou trabalho forçado.
Curiosamente, Čapek atribuiu a criação do termo ao seu irmão, o pintor e escritor Josef Čapek, que o teria sugerido durante uma conversa criativa. Desde então, a palavra ganhou vida própria, simbolizando não apenas máquinas, mas também a eterna busca humana por inovação – e, claro, os dilemas éticos que vêm com ela.
Na peça de Čapek, os robôs eram seres artificiais com aparência humana, inicialmente criados para realizar tarefas braçais. Mas, ao adquirirem consciência, eles se rebelam contra seus criadores.
Apesar de se tratar de uma obra fictícia, o conceito ecoa as discussões contemporâneas sobre IA e sua autonomia. Hoje, quando pensamos em “robôs”, talvez imagens de braços mecânicos em fábricas ou assistentes digitais como o ChatGPT venham à mente.
Mas a essência permanece: são criados para facilitar a vida humana – com potencial para transcender seus propósitos originais, assim como os robôs de Čapek.
Com a chegada de tecnologias como a IA generativa, a definição de robô evoluiu. Não se trata mais apenas de engrenagens e circuitos, mas de algoritmos que aprendem, criam e até desafiam noções tradicionais de criatividade.
Um exemplo disso é o papel da IA na arte, na escrita e até em sistemas de decisão, ultrapassando os limites do que se imaginava possível. Contudo, essa evolução traz consigo um questionamento inquietante: o que acontece quando nossas criações ultrapassam nosso controle?
A visão distópica de Čapek, na qual máquinas se voltam contra seus criadores, parece mais relevante do que nunca. Os debates sobre ética na IA, uso responsável e os riscos de autonomia tecnológica ecoam esse temor.
Estamos criando ferramentas que nos libertarão ou entidades que poderão nos desafiar?
A história de “robota”, nascida de uma conversa entre irmãos criativos, nos lembra que o futuro da tecnologia – e da humanidade – está sendo moldado agora.
E você, está pronto para refletir sobre o impacto dos “robôs” do século XXI?
(*) Jornalista pós-graduado em Filosofia, especialista em Liderança: gestão, resultados e engajamento e mestrando em Inovação, Comunicação e Economia Criativa