Ex-presidente da CEB, onde começou como estagiário, e da Caesb, Fernando Leite assumiu a Novacap em junho deste ano. Nesta entrevista ao Brasília Capital, ele fala de seu compromisso de renovar a “empresa-mãe”, fundada em 1956 pelo presidente Juscelino Kubstchek e que teve como primeiro chefe o desbravador Israel Pinheiro. Leite é o 56º a ocupar a cadeira. “A Novacap tem no seu DNA o gene da mudança”, acredita.
Esta é a sua terceira experiência à frente de uma estatal do GDF. Como se sente ocupando a cadeira de Israel Pinheiro, primeiro presidente da Novacap? – Tenho dito que vivo essa experiência com muita satisfação. Eu tenho uma longa carreira no governo do Distrito Federal e sempre tive vontade de trabalhar na Novacap.
Por que essa vontade? – Porque a Novacap tem uma história maravilhosa. Foi criada para construir Brasília. A CEB, onde eu comecei como estagiário, depois a Caesb, foram desmembradas da Novacap. Eu pensava: “poxa, conheço as filhas, mas morro de vontade de conhecer a mãe”.
Você assimiu em junho. Nesses quatro meses já deu pra perceber quais são os maiores desafios, em comparação à CEB e à Caesb? – O desafio é muito grande. A Novacap foi, literalmente, abandonada nos últimos dez anos, até o governo Ibaneis. A proposta da Novacap é maravilhosa. Ela foi criada pelo presidente Juscelino Kubstchek com o objetivo de construir a cidade mais moderna do Brasil, a capital do País, que representava uma ruptura com os nossos padrões tradicionais. O Brasil era um país agrícola; que cresceu de frente para o oceano e de costas para o seu interior. Então, ele queria uma capital que fosse um polo de desenvolvimento, que descobrisse o verdadeiro Brasil, o seu interior. Então a Novacap tem, no seu DNA, esse gene da mudança. Eu costumo dizer aos colegas que ela tem essa mudança, do novo, até no nome. Mas envelheceu precocemente: 64 anos para as grandes empresas é infância, é uma empresa jovem. Entretanto, se analisarmos a estrutura, a forma de trabalhar, ela envelheceu precocemente. E a culpa não é das pessoas, mas dos governos.
O que você está fazendo para revitalizar a Novacap? – Nós estamos com muitas propostas em andamento, apresentando para o governo. Nossa proposta é fazer uma nova empresa.
Vai ter concurso público? – Sim. Tem que ter. Nosso quadro de funcionários precisa passar por essa mudança. Estamos com PDV (Programa de Demissão Voluntária) em andamento que será fechado agora em novembro. A Novacap tem 1900 funcionários. Existe uma necessidade grande de reformular, para revitalizarmos a empresa.
Ainda assim, a Novacap continua sendo o braço executor das obras do governo… – Quando você anda pelas cidades, o pavimento, as calçadas, os meios-fios, o paisagismo, tudo que você vê passou pela Novacap. A empresa foi criada para edificar a nova capital. Mas Brasília continuou crescendo. E a Novacap tem que cuidar da ampliação, da mobilização e zelar pelo que já existe. Uma das principais atribuições da Novacap é a zeladoria. Nós precisamos fazer Brasília continuar bonita, bem conservada, com a grama aparada, com os pisos adequados. Mas ficamos 10 anos abandonados. Quando o governador Ibaneis assumiu, o problema não era falta disso ou daquilo, mas o abandono. Agora, estamos cuidando das ruas, das escolas, dos teatros. Nesses primeiros dois anos de governo, estamos resgatando o formato original da cidade. Estamos com mil projetos e programas para reestruturar tudo isso. Em 2021, vamos coroar esse projeto com os programas Inova Novacap (de tecnologia) e Cidade Sempre Viva (de zeladoria).
Nessa revitalização, a Novacap voltará a ter capacidade de fazer tudo, como era na época da fundação, ou apenas coordenará as terceirizações e as licitações de obras do GDF? – Essa é uma grande mudança que nós, dentro das orientações do governador Ibaneis, estamos implementando. A Novacap precisa de ser uma moderna gerenciadora de empreendimentos. Empresa moderna não faz tudo. Isso não existe nem mais na iniciativa privada, quanto mais numa empresa pública. Nós temos que ter capacidade para fazer a gestação, os estudos, os projetos e as contratações das obras importantes para o governo. Quem executa tem que ser a iniciativa privada, que gera empregos. Agora, quem é responsável, quem gerencia, é a Novacap. Ela é um braço operacional do governo. Mas, para ser esse braço, ela não precisa de fazer tudo por conta própria. Ela vai precisar fazer tudo por conta própria dentro de uma visão estratégica, em segmento próprio. O restante quem tem que fazer é a iniciativa privada, que tem a expertise.
Isso vale a pena em termos de custos? – Claro que vale! Vou te dar um exemplo: imagine um hospital de alta tecnologia. Embora tenhamos aqui profissionais altamente competentes, excelentes técnicos, arquitetos e engenheiros, não consegue – como qualquer órgão público no mundo – acompanhar a evolução da tecnologia aplicada na saúde ou na engenharia. Enquanto nós estamos conversando aqui, a tecnologia para tratamentos e para a construção de hospitais já mudou. É muito rápido. O governo não tem capacidade para especializar seus funcionários com a mesma velocidade da iniciativa.
Mas o governo pode gerir tudo isso? – Tem que ser um excelente gestor. Tem que saber contratar, acompanhar a execução e saber receber as obras concluídas para entregá-las à população.
Uma coisa que sempre acontece e causa indignação na população são os atrasos e os aditivos. Por que tantas obras começam e param na metade por falta de dinheiro? Agora mesmo, várias reformas de tesourinhas sofreram atrasos. – Esse é o drama do setor público brasileiro. Você tem obras, como por exemplo a transposição do São Francisco que duram mais uma década de execução. Quanto às tesourinhas, não é verdade…
Mas as obras estavam andando e pararam esperando uma suplementação… – Mas isso é outra história. Quando nós chegamos aqui, as tesourinhas já estavam sendo reformadas, e estamos no processo de execução. Até o início do ano que vem nós vamos entregar todas em pleno funcionamento. Já fizemos 70% dos trabalhos.
Houve alguma intercorrência? – O problema é que as tesourinhas nunca foram reformadas. E elas têm uns 60 anos. Qual o problema do atraso? Não existem projetos físicos guardados das tesourinhas. Aí, você começa a fazer a obra de reforma e quando abre a vistoria para autorizar o andamento, encontra uma coisa muito mais séria, como problemas estruturais. Aí, tivemos que fazer reforços na estrutura. Isso atrasa tudo. E encarece muito. A verdade é que o governador Ibaneis está tendo a coragem de fazer uma reforma em Brasília que ninguém fez. Muitas vezes são obras que não aparecem, como tesourinhas e viadutos. Estamos reformando tudo, para evitar coisas como o desabamento da Galeria dos Estados. Ela é um bom exemplo: foi entregue totalmente reformulada e revitalizada.
A Novacap participa da construção do túnel de Taguatinga? – Não. Essa obra é da Secretaria de Obras. Não é gerenciada pela Novacap. Nós fizemos somente o processo licitatório.
Você é o 56º presidente da Novacap, coincidentemente criada em 1956. Qual a marca pretende deixar desta sua passagem pela empresa? – Nós viemos para fazer com que a Novacap honre a sua história de ser uma empresa nova. Queremos resgatar a Novacap pela importância que ela teve na construção desta cidade. É claro que os tempos mudaram. A Novacap trabalha com recursos do Tesouro. Não tem renda própria. Temos um orçamento fixo. O orçamento de obras depende da demanda. Cada obra tem o seu orçamento, que é repassado. Vem ou do Tesouro, ou da área federal por meio das obras que presta para a saúde, a educação. Nós executamos todas as obras da Secretaria de Saúde, mas os recursos são da própria Secretaria de Saúde.
Fale um pouco mais dessa reformulação da Novacap… – Isso é orientação do governador. Queremos montar uma nova empresa, mais enxuta, mais moderna, bem mais ágil, com muito mais preocupação em valorizar seu pessoal, após o PDV. Aqui, ao longo da história, a dívida com os empregados tornou-se muito grande. Além disso, temos problemas internos. Não temos plano de saúde ou de previdência.
No Dia do Servidor (28 de outubro), o governador anunciou um plano de saúde para o funcionalismo do GDF. Abrange a Novacap? – A nossa intenção é de que sejamos contemplados. Agora, nós temos que resolver os problemas estruturais. A estrutura de pessoal daqui é muito antiga, falta capacitação. Nós ainda temos uma visão antiga, de quando a Novacap foi criada para fazer tudo. Hoje isso não cabe mais. Existe a iniciativa privada que supre essas necessidades. Você terceiriza. Este governo tem essa visão.
Em quanto tempo a Novacap alcançará essa nova estrutura? – Tem que ser em 2021. A proposta é de que criarmos uma nova Novacap, mais ágil. A digitalização dentro da empresa está longe do padrão que é realmente necessário.
Vai trazer para cá a experiência da Caesb? – Sim. Graças a Deus nós tivemos essa oportunidade. Durante três anos seguidos a Caesb foi a melhor empresa de saneamento do Brasil. A meta agora é fazer isso na Novacap. Teve um caso interessante quando cheguei aqui, um colega me perguntou “você vai repetir aqui o que fez na Caesb e na CEB?”. Eu falei: “não, vou fazer muito melhor”. Os tempos mudaram. Então nós precisamos fazer melhor.
Qual a mensagem você deixaria para a população do DF? – Sem dúvida, uma mensagem de otimismo, de muita esperança. Em primeiro lugar, para os empregados da Novacap: acreditem na proposta do governador Ibaneis, que é séria. Nós vamos reformular e fazer da Novacap a empresa dos sonhos de vocês. Para população, queria falar que o objetivo da Novacap é promover as melhorias, mas também estaremos focados na prestação de serviço, na zeladoria, para fazer com que a cidade fique limpa, seja organizada, sem buracos, com a grama aparada. A cidade tem que funcionar, tem que continuar bela. E nós vamos fazer isso.