A volta do Campeonato Carioca mexeu com o futebol brasileiro de forma histórica, mas negativa, nas últimas semanas. Após as duas últimas rodadas do segundo turno (Taça Rio) e dois jogos de semifinais, pouco se falou do desempenho dos times em campo. Até quarta-feira (8), prevaleciam os debates em torno das transmissões (ou não) das partidas e da inoportuna disputa esportiva em meio à pandemia da covid-19.
Mas o Fluminense, que juntamente com o Botafogo era contra o reinício da competição, deu sobrevida ao esvaziado torneio, que aparentava caminhar para mais uma conquista fácil do Flamengo. Depois de derrotar a Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) pelo direito de transmitir, com exclusividade, a partida pela FluTV, o tricolor surpreendeu a forte equipe rubro-negra. Arrancou um empate heroico (1 a 1) nos 90 minutos e levantou o título na disputa de pênaltis (3 a 2).
O time do técnico Odair Helmann jogou com raça e dominou a equipe milionária dirigida pelo português Jorge Jesus no primeiro tempo, quando saiu com vantagem mínima no placar. Elenco e comissão técnica merecem elogios, mas quem cresceu mesmo foi a instituição Fluminense Football Club, que dedicou a conquista às vítimas do novo coronavírus.
Em meio às discussões sobre a volta do Campeonato, a FERJ marcou reuniões sem os representantes do Botafogo e do Fluminense. Um dirigente da federação chegou a dizer que os dois clubes mais antigos do Rio de Janeiro eram como alunos que não estudaram para a prova. Ao provocar dois jogos finais contra o rival, o Tricolor mostrou que mesmo com pouquíssimos dias de preparação, estudou e passou com louvor.
Além de reviver a tradição do “time de guerreiros”, provou que a mística do Fla x Flu, o clássico mais charmoso do País, está mais viva do que nunca. Mesmo sendo obrigado a jogar num estádio em cuja parte externa um hospital de campanha abriga centenas de vítimas da pandemia.