(*) Walberto Maciel
Não gosto quando alguém fala que brasileiro tem memória curta. Me dá a impressão de que quem fala isso conta com esta possibilidade, principalmente político. Mas, infelizmente, é verdade. Sinto esta realidade.
Em novembro de 2021, quando completava o primeiro ano da pandemia, coloquei no site e-cidadania do Senado Federal uma proposta para criação de um Fundo de Amparo aos órfãos da Covid-19.
Paralelamente, escrevi o ebook “Órfãos da Covid-19”, que está à venda na Amazon, cuja renda vai para pessoas que cuidam de crianças órfãs ou entidades com o mesmo fim. Basta fazer a pesquisa com a palavra Órfãos que aparece o link para compra nas versões em português e inglês.
No livro digital eu criei uma história fictícia do momento em que o Brasil vivia quando já tínhamos 100 mil mortes, e pelo menos 30 mil órfãos, considerando as crianças que perderam pais (só o pai, só a mãe, os avós que eram responsáveis por elas). Enfim, crianças e jovens até 18 anos que estavam sofrendo o golpe mais duro da pandemia.
Grupos de crianças ficaram sem seus pais e foram distribuídos pela família ou abandonados em lares de apoio que nem sempre fazem o que pregam.
Repassei o dinheiro arrecadado com a venda do livro para entidades que estavam atendendo crianças e famílias atingidas pela pandemia. Distribuí, com ajuda de amigos e companheiros do jornalismo, cerca de 600 cestas básicas, além do dinheiro que repassei para entidades de fora de Brasília, para representantes da comunidade indígena e famílias que me procuravam diretamente.
No início, minha mulher, Sara, sugeriu que eu passasse a “bola” para um político. Relutei, porque conheço a demora da tramitação de projetos no legislativo.
Mas a ideia foi abraçada pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), com o PL 2.180-21, incluído no relatório da CPI da Covid do senador Renan Calheiros (MDB-AL). Mas até hoje continua parado em alguma gaveta do Senado.
Quando já estávamos com dois anos de pandemia, em 2022, tivemos eleições e o presidente Lula foi eleito presidente. Um alívio para boa parte da população, que não aguentava mais conviver com o descaso e negacionismo de Bolsonaro.
Fato é que, mesmo Lula tendo falado em ajudar os órfãos da covid-19 na campanha e no discurso de posse, uma luz no fim do túnel, até agora as crianças, que perderam suas mães na hora do parto estão completando quatro anos e nada foi feito pelo governo federal. O Consórcio do Nordeste definiu um valor que deve ser dado aos órfãos da covid-19 até completarem 18 anos. Não sei a quantas anda.
Agora, desde o início de maio o Rio Grande do Sul vive uma grande tragédia, com a destruição pelas chuvas em mais de 400 municípios gaúchos. E novamente crianças estão ficando órfãs e adolescentes perderam tudo. E não tenho dúvida de que eles e suas famílias vão para o esquecimento. Assim como as vítimas da covid-19.
(+) Autor do ebook Órfãos da Covid-19, que está à venda na Amazon para ajudar famílias e instituições que cuidam de crianças órfãs