Local de trabalho do governador de Brasília é quase inacessível ao público. Ninguém entra a passeio. Jornalistas são escoltados por assessores
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Orlando Pontes e Gustavo Goes
O Palácio do Buriti é público, mas não é do povo. Sede do Governo de Brasília, o prédio parece mais uma fortaleza do que o local de trabalho do representante eleito pela vontade da maioria do povo da capital da República. O controle da portaria principal é responsabilidade da Casa Militar. Oficiais são orientados a identificar qualquer pessoa que pretenda entrar no Palácio e o ingresso só é autorizado após consulta ao funcionário com quem se pretende conversar. Antes, o cidadão é submetido a um detector de metais.Se entrar no Palácio é complicado, no prédio anexo, onde funcionam várias secretarias do governo, chega a ser constrangedor, especialmente para os jornalistas. Cumprindo determinação que ninguém sabe dizer de onde surgiu, os porteiros e funcionários de uma empresa terceirizada telefonam para os assessores de imprensa e estes têm que descer ao térreo para acompanhar o profissional de imprensa ao local onde ele pretende cumprir sua pauta. No Gabinete Civil, um assessor garante que esta prática já existia antes da chegada da atual equipe.
Antiga ou nova, o certo é que a ordem não tem previsão de ser revogada. Nem mesmo a emissão das chamadas “credenciais de imprensa” está em pauta. As últimas carteirinhas que asseguravam livre acesso de jornalistas às dependências da sede do governo local ainda datam da década de 1990. Mais uma vez, o Gabinete Civil justifica que não é responsável pela suspensão da emissão do documento.
Para fechar um atalho antigo usado por quem conhece os corredores da sede do Governo, a Casa Militar tratou de criar uma nova “recepção” no segundo andar. Ali, para passar pelo túnel que liga o Palácio ao Anexo, o visitante esbarra em outra barreira. Precisa se identificar novamente, dizer aonde vai e com quem pretende falar, e submeter-se mais uma vez a outro detector de metais.
Tanta burocracia, segundo a assessoria da Casa Militar, visa garantir a segurança do governador e do vice. Ainda por precauções com vistas à integridade física das duas maiores autoridades do Distrito Federal, a Casa Militar se recusa a informar quantos homens e mulheres da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros estão envolvidos nessas operações.
Certo mesmo é que todos eles recebem gratificações complementares aos seus contracheques ao serem requisitados para sair de sua atividade-fim (a segurança da população que paga seus salários com os impostos) para cuidar exclusivamente da preservação do sossego de Rodrigo Rollemberg e de Renato Santana e seus familiares.
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Residências oficiais
Não para aí o empenho da Casa Militar em blindar o governador e o vice e os integrantes do primeiro e segundo escalões do governo do contato com a população. As residências oficiais dos dois mandatários são vigiadas dia e noite por oficiais e praças da PM, que também fornece os chamados “ajudantes de ordem”.
Em Águas Claras, reservada para o governador e sua família, são duas guaritas – uma no acesso pela Estrada Parque Taguatinga-Guará (EPTG) e outra pelo Parque Ecológico de Águas Claras. E ainda existem duas torres de observação de onde os guardas controlam a aproximação de estranhos, e um heliporto, de onde o chefe do executivo pode partir e chegar sem ser importunado por transeuntes ou pelos constantes engarrafamentos de trânsito nas vias de aceso.
A residência oficial da vice-governadoria, no Lago Sul, também é vigiada 24 horas por dia por policiais militares. Da mesma forma que no Palácio do Buriti, eles se revezam em turnos de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso. Como Renato Santana optou por não se mudar de sua casa no Setor P-Norte de Ceilândia, uma escolta foi montada na praça que dá acesso ao conjunto onde ele mora. Nesse caso, os PMs andam à paisana e em carros descaracterizados com placas frias.
Falta PM nas ruas
Mesmo com o maior efetivo de policiais militares em relação ao número de habitantes do Brasil, o DF está longe de ser a melhor unidade da Federação em termos de segurança pública. Os dados mais recentes mostram aumento no número de roubos em residências (10,6%) e de roubos a pedestres (5,2%). Portanto, o que sobra para as autoridades falta para os cidadãos que pagam impostos.
Enquanto oficiais e praças se ocupam com a identificação de cidadãos que visitam ou precisam resolver problemas em órgãos do governo local, desfalcam o efetivo já deficitário de profissionais que deveriam estar nas ruas. A PM e a Polícia Civil reclamam da falta de efetivo e cobram a realização de concursos públicos para fazer novas contratações. Cerca de 5.050 policiais civis trabalham nas ruas, quando o ideal seriam 8.900. Na corporação, os aprovados no último concurso esperam nomeação.
Casa Militar
De 1960 até meados da década de 1970, Brasília tinha status de prefeitura e era administrada por um prefeito nomeado pelo presidente da República. Em 1970, por força constitucional, a denominação passou para Governo do Distrito Federal. O primeiro governador do DF foi Hélio Prates da Silveira.
Naquele ano também ocorreu a ocupação definitiva do Palácio do Buriti como sede do governo. Com a mudança, foi criado o Gabinete Militar do Governador, por meio de decreto publicado em 28 de setembro. Desde a sua criação, a Casa Militar já foi chefiada por 25 oficiais da PMDF. O atual é o coronel Claudio Ribas de Sousa.
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