Quem leu o livro “O Voto do Brasileiro”, do pesquisador Alberto Carlos Almeida, autor do best seller “A Cabeça do Brasileiro”, sabia exatamente que a direita azul e a esquerda vermelha estariam no segundo turno das eleições presidenciais deste ano.
O que não era nada previsível alguns meses antes das eleições era que Jair Bolsonaro – um político da velha guarda e sem partido relevante, sem alianças, sem recursos financeiros, sem tempo de TV, que adotou o politicamente incorreto como discurso – tomaria para si e expandiria os redutos eleitorais dos azuis, que, em hipótese pertenciam a Geraldo Alckmin.
Bolsonaro conseguiu não só eleger diretamente a segunda maior bancada da Câmara Federal, senadores e diversos deputados estaduais, como também, indiretamente, ajudou a eleger diversos governadores de perfis totalmente incomuns, e venceu a corrida presidencial, contrariando a lógica.
Apesar de soar estranho, o fato é que não foi o Whatsapp que impulsionou sua campanha, tampouco que a TV não foi crucial para sua vitória. A facada sofrida por Bolsonaro selou, com seu sangue e muita comoção jornalística, a aliança política da qual carecia, com um povo ressentido, roubado pelos políticos, sem perspectivas e ávido por um salvador. Quase um Messias.
Com a facada, Bolsonaro conquistou tudo o que nenhum dos outros 12 candidatos à Presidência possuía: tempo de TV jornalístico que de fato valia a pena, e não aquele do horário eleitoral gratuito, chato e desgastado. Horas e mais horas na telinha, dias e dias a fio, com narrativa humanizada e enredo da injustiça contra o líder que tentaram tirar do jogo de forma criminosa.
A exposição televisiva abundante, positiva e redundante o tornou conhecido em todo o território nacional, com a marca que precisava para arrebatar corações e tornar inaceitável qualquer que fosse o argumento racional contra sua candidatura.
Esta catarse coletiva hipnótica em dezenas de milhões de eleitores que se converteram em seus seguidores fiéis e não-contestadores criou o campo das manifestações espontâneas e das fake news, que solidificaram a imagem e o voto em Bolsonaro por meio das redes sociais digitais, em especial o Whatsapp. Pouco importava se era verdade ou mentira; o que importava era que o “Mito” era o único capaz de “acabar com isso tudo que está aí”.
Com um canal desses, sem ruídos e sem contestações, que de forma inédita se colocou à disposição de um político, nunca foram tão desnecessários profissionais de publicidade e marketing, estruturas de produção audiovisual e tampouco magos do marketing político.
O improviso e a estética amadora foram a cereja do bolo para o triunfo de um dos discursos mais vazios e despreparados da história recente do País, mas que carregava em si todos os significados necessários para a conquista de corações, devoções e votos descrentes da política tradicional.
Há um clichê falado pelos apaixonados que resume a lógica do voto que elegeu Bolsonaro: “não sei dizer, apenas sentir.”
(*) Adriano Mariano é consultor em Marketing e Comunicação