Pedro Lucas Ferreira Chaves tinha 19 anos. Era soldado do Exército. Servia na Brigada de Infantaria Paraquedista. No sábado (20), durante um treinamento no Campo dos Afonsos, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, seu equipamento ficou preso ao avião C-105 Amazonas. Ao cair, o paraquedas não abriu. O jovem foi levado ao Hospital Geral, na Vila Militar, mas não resistiu.
Naquele mesmo dia, o Brasil superava a marca de 50 mil óbitos pela covid-19. Dados do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) apontavam que a 25ª semana da pandemia – de 14 a 20 de junho – registrara o maior número de óbitos desde o início da doença.
Nesse período, 7.256 novas mortes foram contabilizadas. Nos 7 dias anteriores, a doença fez 6.790 vítimas. Uma diferença de 6,8%. O maior valor acumulado, até então, tinha sido 7.096 óbitos. Na última semana, foram 217.065 resultados positivos (aumento de 22% em relação à anterior).
Mas o que diferencia os mais de 50 mil brasileiros vítimas da covid-19 e o 1,1 milhão de contaminados do jovem militar Pedro Lucas é o fato de não terem o mesmo reconhecimento por parte do Presidente da República.
Jair Bolsonaro insiste no negacionismo da letalidade do novo coronavírus. Desde o início da pandemia, minimiza e ignora o valor das vidas perdidas para a doença, dizendo ser uma “gripezinha” e que ia morrer mesmo um percentual de brasileiros. Mas, no domingo (21), interrompeu sua agenda presidencial para participar do velório do jovem militar morto durante um treinamento.
Na cerimônia, restrita, no 26º batalhão de infantaria paraquedista, na Avenida General Benedito da Silveira, prestou solidariedade à família do soldado – o que jamais fez com nenhuma das vítimas da pandemia e muito menos às famílias destroçadas. Semblante contrito, provavelmente, pensava que poderia ter tido o mesmo destino de Pedro Lucas quando serviu àquele batalhão no início de sua carreira na Força terrestre.
É esta empatia que falta ao Presidente em relação aos mortos e contaminados, como aos 200 milhões ameaçados pela pandemia. Será que teremos todos de embarcar num C-105 para, só assim, o capitão, finalmente, perceberá que nossas vidas também importam?
Até a ajuda emergencial de R$ 600 às famílias pobres que precisam fazer o isolamento social para tentar escapar da contaminação, ele contesta e quer tirar. São 36 milhões de trabalhadores informais que ficaram sem nenhuma renda e sem o auxílio não podem permanecer em casa.
Bolsonaro já anunciou que limitará o auxílio a esses “invisíveis” a apenas mais R$ 600, parcelados em três vezes. Assim, com a flexibilização precipitada do isolamento social, o número de contaminados e mortos aumenta exponencialmente.
Enquanto isso, após 40 dias à frente do Ministério da Saúde, o general Eduardo Pazuello opera uma política de “imunização de rebanho” não-declarada. Militarizou a pasta, para a qual levou duas dezenas de militares — os da ativa, em desvio de função —, a maioria neófitos em política sanitária.
Quando assumiu, em 15 de maio, o Brasil contabilizava 14,8 mil mortos e 218 mil casos confirmados. Esses números quase quintuplicaram no período. Não será surpresa se duplicarmos o número de mortos até o fim de agosto.
Quem sabe, até lá o Presidente perceba que cada um de nós se tornou um paraquedista pendurado num avião e se disponha a fazer algum gesto para tentar evitar a morte iminente!