Em 1513, o filósofo italiano Nicolau Maquiavel escreveu: “a primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência é dada pelos homens que o cercam”. Esse e outros pensamentos fazem parte da obra “O Príncipe”, publicada postumamente em 1532. Certamente, para muitos governantes, o livro é uma referência. Tanto do que fazer, quanto do que não fazer. Porém, no Distrito Federal, aparentemente, o livro passa bem longe das escolhas literárias da atual gestão. A começar pela frase aqui citada. Pois a escolha de quem integrará uma administração é, talvez, a decisão mais importante de um político eleito.
Para Maquiavel, é a partir da definição de seus “assessores” que um governante revela sua capacidade de gestão. “Quando estes são eficientes e fiéis, pode-se sempre considerar o príncipe sábio, pois foi capaz de reconhecer a capacidade e manter fidelidade. Mas quando a situação é oposta, pode-se sempre fazer mau juízo dele, porque seu primeiro erro terá sido cometido ao escolher os assessores”, diz o filósofo. Acho que, no DF, algumas decisões precisam ser revistas. E a escolha do secretário de Saúde, talvez, seja uma delas.
Desde o início do ano, vivemos um surto de dengue como nunca registrado antes. De janeiro até 11 de maio, de acordo com dados da própria Secretaria de Saúde, a Capital registrou 19,8 mil notificações da doença. O número é 12 vezes maior do que no mesmo período de 2018, quando foram 1.676 casos. Mais grave ainda: o salto no número de ocorrências também causou um aumento nos registros de mortes pela doença. Foram 16 neste ano. Em 2018, nos cinco primeiros meses, foi uma. E, para piorar o cenário, agora o fumacê contra a dengue foi interrompido, sem prazo para retomada do serviço, porque o galpão onde a mistura era feita foi interditado pelo Ministério Público.
Segundo o órgão de fiscalização, no local onde o fumacê era produzido, inseticidas vencidos eram misturados a outros químicos ainda dentro da validade. Além disso, apontou o Ministério Público, todo o trabalho era feito em cima de uma bancada improvisada, em um ambiente sujo e sem ventilação. Nem mesmo os funcionários que borrifavam a mistura nas ruas do DF têm qualificação técnica comprovada. E enquanto nada funciona, o número de casos da doença, certamente, está aumentando. Isso, lembrando, em um cenário de caos nos hospitais e outras unidades de Saúde que, sequer, têm luvas para o atendimento aos pacientes.
Até agora, nada foi feito para resolver o problema (ou, os problemas). O secretário de Saúde, Osnei Okumoto, não se pronunciou e a Pasta ainda não deu nenhuma solução para o problema. Tudo o que temos são anúncios de “situação de alerta”. Aliás, é bom lembrar que no início do mandato, em uma grande coletiva de imprensa, a atual gestão anunciou que utilizaria até drones para combater a dengue. Pelo jeito não funcionou. Ou, quem sabe, não houve seriedade suficiente para tentar sanar o problema. Afinal de contas, o Aedes Aegypti não é, necessariamente, nenhuma novidade no que diz respeito à transmissão de doenças.
Até aqui, parece que a atual administração do DF, ao invés de se preocupar com políticas públicas que solucionem antigos problemas, decidiu ir à contramão do discurso de campanha. Além da dengue, há uma série de disfunções no Distrito Federal, que precisam de ações sérias e comprometidas com a recuperação efetiva da Capital e suas Regiões Administrativas. Até aqui, parece que a única parte da filosofia de Maquiavel levada a sério pelo atual governo é: “os fins justificam os meios”. E a população segue refém da ineficiência e da inabilidade dos gestores.