Inspirada na canção “Com açúcar e com afeto”, de Chico Buarque e Maria Bethânia, a administradora de empresas e empresária Paula Belmonte, 44 anos, pretende ser deputada federal para trabalhar pela educação infantil. Casada, mãe de seis filhos, ela usará sua sensibilidade materna para direcionar todas as emendas parlamentares para a construção de creches públicas. “Serei a deputada da coragem e do afeto”, brinca.
Paula Belmonte quer chegar à Câmara dos Deputados para fazer a diferença, com novas ideias e uma forma própria de fazer política, respeitando princípios combinados com os senadores Reguffe (sem partido) e Cristovam Buarque, seu correligionário. “Será um mandato para mostrar que é possível haver uma renovação de princípios”, disse.
Sem uma nova geração de políticos, prevê a continuidade dos problemas. \”A infância deve ser priorizada, mas o que vemos é exatamente o contrário”, afirma, citando o déficit de 21 mil vagas em creches públicas no Distrito Federal. A empresária defende que as crianças de até três anos tenham acesso universalizado à escola. E essa seria apenas uma de várias outras políticas públicas urgentes para a primeira infância.
O que a motivou a disputar uma vaga na Câmara dos Deputados? – A indignação tem me motivado bastante. Eu e grande parte da população brasileira estamos revoltados com a política da forma como vem sendo feita nos últimos anos. Acho que pessoas com princípios éticos e familiares precisam sair da zona de conforto de ser apenas mais um eleitor e entrar de verdade na política. Estou entrando para fazer diferente. E fazer melhor. Quero trabalhar pela população do DF, que há muitos anos espera atitude de seus líderes.
Como fazer uma boa política? – A política, quando feita com ética e responsabilidade, ajuda as pessoas. Um bom deputado ou senador deve ter respeito pelo dinheiro público, abrir mão das regalias, que não são poucas, mas principalmente fazer o trabalho de fiscalização.
Como deve ser essa fiscalização? – A função principal de um parlamentar é vigiar como o dinheiro público está sendo gasto. Infelizmente, não acontece como deveria ser. O deputado, por conveniência, critica ou elogia o governo. Muitos têm cargos no governo e ficam calados diante dos problemas. Outros, quando estão na oposição, se limitam a falar mal e atrapalhar qualquer que seja o projeto, mesmo que positivo para a cidade ou para o país. Não é assim que se deve fazer política. Por isso mesmo é urgente a renovação política.
Você usa muito a palavra renovação. Como isso deve ocorrer?– Ótima pergunta. Acredito que muito mais do que renovar os nomes, é preciso uma renovação de princípios. Muitos políticos com sobrenome conhecido estão disputando eleições para garantir a continuidade do império dos parentes. A obrigação de quem chega na política é ter bons valores e passado limpo. Mas para promover a mudança é preciso trazer ideias novas e comprometimento com o eleitor.
Por que o compromisso de priorizar a infância? – Sou mãe de seis filhos e posso entender o quanto deve ser difícil para uma mulher não ter condições de atender os filhos da maneira que gostaria. É muito duro a mulher ter que trabalhar e não ter um local adequado para deixar seu filho. Tenho andado bastante pelo DF e a situação é péssima. Em muitas cidades, é a própria comunidade que se organiza para que as crianças não fiquem desamparadas e as mães possam trabalhar. Minhas emendas serão todas aplicadas na construção de creches. O poder público precisa olhar com mais atenção para a estrutura das creches.
Acredita que o seu esforço e o direcionamento de suas emendas parlamentares serão suficientes para resolver o problema da falta de creches públicas, que se arrasta há anos no DF?–Esta é, de fato, uma situação muito preocupante. São 21 mil crianças sem creche no Distrito Federal. As crianças devem ser prioridade, mas o que vemos é exatamente o contrário. Eu quero ser deputada para dar a minha contribuição e fazer a minha parte. Vou levar esta bandeira do primeiro ao último dia do meu mandato. Todos sabemos que é na primeira infância que ocorre o maior desenvolvimento de um ser humano. Se ele não for estimulado desde os primeiros anos, pode sofrer consequências sérias, que levará para a vida toda. Então eu acho mesmo que existe uma inversão de prioridades, que precisa ser combatida. É preciso fazer muito mais pela infância.
A escola pública tem jeito? – Não tenho dúvida que sim. Tem gente que diz que educação é gasto. Eu estudei em escolas públicas. Aqui em Brasília, por exemplo, o orçamento anual da educação é de R$ 7,9 bilhões. É muito dinheiro! Mas o que vemos são escolas sem a qualidade ideal. Temos que cobrar e fiscalizar os gestores públicos para que esse dinheiro se reverta em educação de qualidade. Aperfeiçoar a gestão e fiscalizar o investimento do dinheiro público é o melhor caminho para garantir uma educação de qualidade para todos.
Mulher, mãe, empresária. O que o eleitor brasiliense pode esperar de uma deputada com este perfil? – Muita luta, coragem e determinação para cumprir tudo que estará escrito em meus panfletos de campanha. Gosto muito de uma música do Chico Buarque e da Maria Bethânia chamada “Com açúcar e com afeto”. Mas, ao contrário daquela mulher cantada pelos artistas, apesar de afetuosa e carinhosa, não sou submissa. A mulher precisa ocupar seus espaços na sociedade e defender seus pontos de vista. Então, em vez de açúcar, meu tempero para o afeto seria a coragem (risos).
Por que esse desejo de representar Brasília no Congresso Nacional? – Cheguei aqui com três anos de idade. Passei minha infância e adolescência na Asa Norte. Estudei em escola classe, participei de grupo de escoteiros. Tive uma infância feliz e trago comigo boas recordações. Aqui cresci, me casei e formei minha família. Tenho muito carinho pela cidade e quero retribuir tudo de bom que Brasília me proporcionou. Não preciso da política para viver, mas quero servir a população dessa cidade que me acolheu tão bem desde a infância.